Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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Graciliano realmente acreditava que o povo alagoano estava protegido, e em<br />
carta a sua mulher Heloísa Ramos, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1930, o mesmo<br />
relatou: “Não há, parece-me, inimigos do governo em Maceió” (RAMOS, 1982,<br />
p.107).<br />
Para a surpresa do autor, o governador do Estado abandona o governo logo<br />
<strong>de</strong>pois e foge com o dinheiro público, entregando-o aos revolucionários.<br />
Na época em que estes acontecimentos tiveram lugar, a <strong>liter</strong>atura brasileira<br />
tomou novas formas. Com traquejo e boas maneiras, a produção <strong>liter</strong>ária passou a<br />
beirar o convencional, o banal. To<strong>da</strong>s as expressões <strong>de</strong> arte eram monitora<strong>da</strong>s <strong>pel</strong>a<br />
crítica policial, que fiscalizava obras e escolas, e prendia os consi<strong>de</strong>rados contrários<br />
ao governo. A resistência, dolorosamente dissolvi<strong>da</strong> com mortes e torturas, obrigava,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> operários a escritores e jornalistas, a serem <strong>de</strong> direita, sem voz, meros<br />
fantoches <strong>de</strong> uma ditadura sem limites morais.<br />
Sobre a <strong>de</strong>magogia militarista que se instaurava, o autor refletiu: “[…]<br />
ladroagens, uma on<strong>da</strong> <strong>de</strong> burrice a inun<strong>da</strong>r tudo, confusão, mal-entendidos,<br />
charlatanismo, energúmenos microcéfalos vestidos <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> a esgoelar-se em<br />
discursos imbecis, a semear <strong>de</strong>lações” (RAMOS, 1954, p. 70).<br />
Graciliano Ramos permaneceu no cargo <strong>de</strong> diretor <strong>da</strong> Imprensa Oficial até<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1931, quando o abandonou, vitimado <strong>pel</strong>as pressões dos interventores<br />
militares, retornando para Palmeira dos Índios.<br />
Segundo consta na Coleção Escritores Brasileiros, <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a Graciliano<br />
Ramos, a recusa do autor em a<strong>de</strong>rir à Revolução <strong>de</strong> 30 po<strong>de</strong> ter sido causa<strong>da</strong> por<br />
compromissos pessoais, <strong>de</strong>vido a uma nomeação para um cargo <strong>de</strong> confiança que o<br />
mesmo ocupava no governo, e/ou uma disposição bem antiga contra a retórica<br />
<strong>de</strong>magógica (GARBUGLIO et al.,1987, p. 80).<br />
Percebe-se, porém, que Graciliano era contra a Revolução, mas não <strong>de</strong>fendia<br />
a idéia <strong>de</strong> se manter os interesses <strong>da</strong>s oligarquias. Devido a esta situação, o autor<br />
passou a crer que talvez só o socialismo pu<strong>de</strong>sse ser uma saí<strong>da</strong> realmente viável.<br />
Graciliano Ramos relacionava estas idéias à escritura <strong>de</strong> São Bernardo<br />
(1934) e dizia que estas eram idéias “vermelhas” (GARBUGLIO et al.,1987, p. 81),<br />
subversivas. Esta obra traz como personagem principal Paulo Honório, um matuto,<br />
brasileiro nato, que se expressa por meio <strong>de</strong> uma linguagem bem original, composta<br />
por períodos confusos para os letrados, neste caso, os fazen<strong>de</strong>iros. Expressões<br />
típicas do nor<strong>de</strong>ste brasileiro, bem como palavrões e frases bem apimenta<strong>da</strong>s<br />
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