Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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dos gran<strong>de</strong>s responsáveis <strong>pel</strong>a <strong>de</strong>sestrutura e <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> sociais encontra<strong>da</strong>s no<br />
Nor<strong>de</strong>ste do final dos anos 30, conforme retratado por Graciliano Ramos, e<br />
atualmente ain<strong>da</strong> estampa<strong>da</strong>s em jornais e revistas do País.<br />
Baseado possivelmente em idéias socialistas, este autor insinua que a raiz do<br />
problema social no Nor<strong>de</strong>ste po<strong>de</strong>ria ser explica<strong>da</strong> <strong>pel</strong>a presença <strong>de</strong> um governo<br />
oligárquico, e <strong>de</strong> proprietários <strong>de</strong> terra que exploram insensivelmente os vitimados<br />
<strong>pel</strong>a seca.<br />
Em “Contas”, a exploração é gritante. Fabiano trabalha duro, e no momento<br />
do acerto <strong>de</strong> contas é enganado <strong>pel</strong>o patrão. Sinha Vitória havia feito os cálculos, e<br />
Fabiano acreditava na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mulher, sabia que se alguém tivesse errado,<br />
haveria <strong>de</strong> ser o patrão. Quando tenta argumentar, o patrão ameaça <strong>de</strong>spedí-lo <strong>pel</strong>a<br />
insolência do ato. Fabiano acha melhor <strong>de</strong>sculpar-se, fingir para si próprio que o erro<br />
<strong>da</strong>s contas tinha sido <strong>da</strong> mulher, aceitar a quantia in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>, além <strong>de</strong> ouvir os<br />
conselhos do patrão sobre dinheiro e futuro.<br />
Fabiano, ao justificar sua atitu<strong>de</strong> perante o patrão, <strong>de</strong>clara: “Era bruto, não<br />
fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar<br />
questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens”<br />
(RAMOS, 2000, p.93).<br />
Este personagem, oprimido e ignorante, fôra <strong>de</strong>srespeitado em to<strong>da</strong> a sua<br />
essência. E, apesar <strong>de</strong> ter consciência <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>srespeito, se orgulhava <strong>de</strong> ser<br />
respeitoso com o amo que lhe roubava.<br />
Percebe-se aqui o que a teoria marxista chamaria <strong>de</strong> escravidão informal e<br />
abuso do po<strong>de</strong>r cultural. Por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, Fabiano se obrigava a ven<strong>de</strong>r por preços<br />
irrisórios seu gado, e para po<strong>de</strong>r morar naquela fazen<strong>da</strong>, era obrigado a aceitar<br />
condições aviltantes, sempre <strong>de</strong>vendo favores, sendo roubado e humilhado, num<br />
círculo vicioso, num processo <strong>de</strong> coisificação do ser humano. Para o marxismo, a<br />
estrutura socioeconômica reduzia Fabiano a um instrumento <strong>de</strong> produção, uma<br />
máquina.<br />
O patrão, por perceber que Fabiano é um pobre diabo, faminto, impõe sua<br />
superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural e o rouba, <strong>de</strong> forma impunível. O vaqueiro, retrato <strong>da</strong><br />
opressão, permite o abuso. Por não ter opções, mora na casa do patrão,<br />
trabalhando para ele somente até que este o permita. Submete-se ou morre <strong>de</strong> fome<br />
com a família. “Nascera com esse <strong>de</strong>stino, ninguém tinha culpa <strong>de</strong> ele haver nascido<br />
com um <strong>de</strong>stino ruim. Que fazer? [...]” (RAMOS, 2000, p, 96).<br />
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