Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. Ausência <strong>de</strong><br />
tabaréus bem-falantes, queima<strong>da</strong>s, cheias e poentes vermelhos, namoro<br />
<strong>de</strong> caboclos. A minha gente, quase mu<strong>da</strong>, vive numa casa velha <strong>de</strong><br />
fazen<strong>da</strong>. As pessoas adultas, preocupa<strong>da</strong>s com o estômago, não têm<br />
tempo <strong>de</strong> abraçar-se (GARBUGLIO, 1987, p. 155).<br />
Um paralelismo entre as idéias exprimi<strong>da</strong>s por Graciliano Ramos em Vi<strong>da</strong>s<br />
secas e os i<strong>de</strong>ais marxistas po<strong>de</strong> ser traçado, ligando esta obra aos pressupostos<br />
i<strong>de</strong>ológicos <strong>de</strong> Marx e Engels.<br />
O romance funciona como que uma bíblia dos marginalizados brasileiros.<br />
Segundo SANTIAGO (1981, p. 49), “a sensação é a <strong>de</strong> que o livro não foi escrito<br />
apenas por um só homem, mas por muitos profetas”, e relata a coragem e a fé <strong>de</strong><br />
um povo sofrido, que trava a ca<strong>da</strong> dia uma luta <strong>pel</strong>a sobrevivência, residindo nesta<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> narra<strong>da</strong> a importância <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>s secas para uma leitura política.<br />
A problemática do Nor<strong>de</strong>ste brasileiro que envolve a seca, as instituições<br />
arcaicas, a corrupção, a exploração <strong>da</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, o coronelismo e o latifúndio<br />
são retratados fielmente <strong>pel</strong>o autor, que mostra a figura <strong>de</strong> um sertanejo sofrido,<br />
acossado <strong>pel</strong>os fazen<strong>de</strong>iros <strong>da</strong> região e até <strong>pel</strong>a polícia que, ao contrário <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fendê-lo, também o marginaliza.<br />
Os choques entre os personagens oprimidos e opressores serão a seguir<br />
abor<strong>da</strong>dos, com o pano <strong>de</strong> fundo <strong>da</strong>s concepções marxistas até aqui explica<strong>da</strong>s.<br />
2.2.1 Fabiano X patrão<br />
No capítulo intitulado “Fabiano”, o sertanejo, sinha Vitória e os meninos se<br />
alojam em uma fazen<strong>da</strong> abandona<strong>da</strong>. O dono <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> chega e os expulsa.<br />
Fabiano faz-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentendido, sorri com aflição, e oferece seus préstimos <strong>de</strong><br />
vaqueiro, quase que implorando. O fazen<strong>de</strong>iro aceita, e permite que a família fique<br />
ali, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Fabiano trabalhe para arcar com suas <strong>de</strong>spesas. As <strong>de</strong>spesas<br />
sempre seriam maiores do que o salário <strong>de</strong> Fabiano, situação muito comum naquela<br />
região, o que o mantinha preso ao patrão, que reclamava <strong>de</strong> seu serviço e<br />
ameaçava mandá-lo embora.<br />
Embora Fabiano soubesse que o trabalho estava sendo bem feito, não tinha<br />
meios <strong>de</strong> contestar as críticas do patrão, não sabia como se colocar perante a<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do mesmo, não sabia sequer dialogar, e apenas se <strong>de</strong>sculpava,<br />
prometendo melhorar, com o chapéu <strong>de</strong> palha embaixo do braço. Ele sabia que no<br />
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