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Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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Esta estrutura <strong>de</strong> composição <strong>da</strong> obra abarca várias narrativas nucleares<br />

secciona<strong>da</strong>s com relativa autonomia, exceto <strong>pel</strong>os capítulos que abrem e fecham o<br />

ciclo <strong>da</strong> seca:<br />

Este encontro do fim com o começo [...] forma um anel <strong>de</strong> ferro, em cujo<br />

círculo sem saí<strong>da</strong> se fecha a vi<strong>da</strong> esmaga<strong>da</strong> <strong>da</strong> pobre família <strong>de</strong> retirantesagregados-retirantes,<br />

mostrando que a po<strong>de</strong>rosa visão social <strong>de</strong> Graciliano<br />

Ramos neste livro não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> [...] do fato <strong>de</strong> ele ter feito romance<br />

regionalizado ou romance proletário. Mas do fato <strong>de</strong> ter sabido criar em<br />

todos os níveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pormenor do discurso até o <strong>de</strong>senho geral <strong>da</strong><br />

composição, os modos <strong>liter</strong>ários <strong>de</strong> mostrar a visão dramática <strong>de</strong> um mundo<br />

opressivo (CÂNDIDO, 1992, p. 65).<br />

A organização <strong>de</strong>scontínua, não-linear, que constrói a obra por fragmentos,<br />

possibilita que várias leituras sejam feitas, favorecendo uma interpretação singular<br />

do texto a ca<strong>da</strong> novo contato com o mesmo.<br />

Os fatores acima expostos, portanto, permitiram que o cineasta Nélson<br />

fizesse sua leitura individual do hipotexto Vi<strong>da</strong>s Secas. Um reler <strong>da</strong> obra crítico e<br />

criativo, mais acima <strong>de</strong> tudo dialógico, uma vez que <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r-se o objeto<br />

<strong>liter</strong>ário como uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> passível <strong>de</strong> leituras plurais, mas não <strong>de</strong> quaisquer<br />

leituras (LEONE; MOURÃO, 1993, p. 89).<br />

A transposição para o cinema apresenta algumas mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> elementos,<br />

buscando, no entanto, não trair a essência do romance. A seqüência capitular do<br />

filme foi refeita. Neste, o inverno chega logo que a família ocupa a casa; acontece<br />

uma junção entre os capítulos “Festa” e “Ca<strong>de</strong>ia”, o que permite que o espectador<br />

enxergue a situação <strong>da</strong> família no momento <strong>da</strong> prisão <strong>de</strong> Fabiano, sob o ponto <strong>de</strong><br />

vista do sertanejo e <strong>de</strong> sinha Vitória; a morte <strong>de</strong> Baleia marca o reinício <strong>da</strong> saga <strong>pel</strong>a<br />

sobrevivência, já que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la a família parte novamente, <strong>de</strong>ssa vez para o Sul.<br />

A cena do reencontro entre Fabiano e o sol<strong>da</strong>do amarelo também é atrasa<strong>da</strong><br />

em relação ao hipotexto, o qual traz esta passagem antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s aves <strong>de</strong><br />

arribação. No hipertexto, este reencontro ocorre <strong>de</strong>pois, sendo seguido <strong>pel</strong>a morte<br />

<strong>de</strong> Baleia. Estes fatos comprovam que o montador po<strong>de</strong>, portanto, “dirigir e controlar<br />

as emoções do espectador, reorganizando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita <strong>pel</strong>os planos,<br />

fazendo com que ele seja envolvido <strong>pel</strong>o filme” (EISENSTEIN, 1990, p. 75).<br />

O tempo também sofreu modificações na transposição. Enquanto na obra<br />

<strong>liter</strong>ária a marcação do tempo é praticamente inexistente, só percebi<strong>da</strong> por algumas<br />

pequenas menções que o autor faz ao longo do texto, o tempo diegético é bastante<br />

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