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Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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O pai o<strong>de</strong>ia momentaneamente o menino, mas seu coração, apesar <strong>de</strong><br />

grosso, era movido <strong>pel</strong>o amor paterno. O sertanejo jamais po<strong>de</strong>ria abandonar seu<br />

filho. O recolhe nos braços, o carrega, protege seu corpo esquálido, <strong>de</strong>sfalecido <strong>pel</strong>a<br />

fome.<br />

Outro momento <strong>da</strong> obra que envolve diretamente o menino mais velho diz<br />

respeito à inserção do caráter religioso na mesma. A criança quer saber dos pais o<br />

significado <strong>da</strong> palavra “inferno”, que ouviu saindo <strong>da</strong> boca <strong>de</strong> sinha Terta, numa<br />

seção <strong>de</strong> benzedura. Como os pais não conseguem lhe explicar o sentido do<br />

vocábulo, ralham com ele, motivados por sua própria ignorância. O menino, triste por<br />

ter sido re<strong>pel</strong>ido, confuso <strong>pel</strong>as poucas palavras que ouviu <strong>da</strong> mãe na explicação <strong>de</strong><br />

sua dúvi<strong>da</strong>, e principalmente ressentido <strong>pel</strong>a má atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, se fecha em seu<br />

mundo, tendo como única companhia a cachorra Baleia.<br />

O significado <strong>de</strong> inferno é entendido <strong>de</strong> maneiras bastante diferentes. Para o<br />

menino, a princípio o inferno não po<strong>de</strong>ria ser um lugar tão ruim quanto lhe explicou<br />

sua mãe, já que se tratava <strong>de</strong> uma palavra tão bonita. Após muito refletir, concluiu<br />

sozinho que o inferno era o que tinham passado quando eram nôma<strong>de</strong>s, sem ter o<br />

que comer. A morte evi<strong>de</strong>nte era o inferno para o menino.<br />

Para a mãe, o simples mencionar <strong>da</strong> palavra já apavorava, apesar <strong>de</strong> chamar<br />

<strong>de</strong> capeta o filho mais novo. Viviam imersos no mítico, crendo em Deus e nas<br />

benzas, se apegando a qualquer crença que lhes trouxesse algum conforto. A<br />

<strong>de</strong>voção <strong>de</strong> Fabiano o levava a igreja uma vez por ano. Sinha Vitória tinha uma<br />

imagem <strong>de</strong> santo em casa. Fabiano amarrou em Baleia um rosário <strong>de</strong> sabugos <strong>de</strong><br />

milho queimados para curar-lhe a hidrofobia. Sinha Vitória acreditava que a<br />

reza<strong>de</strong>ira curaria o espinhaço <strong>de</strong> Fabiano.<br />

O menino mais novo, só <strong>de</strong>sejava ser igual ao pai. Para ele, Fabiano era um<br />

vaqueiro <strong>de</strong>stemido, e queria ser como ele, vestir seu gibão, assumir seu lugar,<br />

fumando cigarros <strong>de</strong> palha e dormindo numa cama <strong>de</strong> varas. Ele seria o homem<br />

montado no cavalo bravo, trajado com guar<strong>da</strong>-peito e chapéu <strong>de</strong> couro. Suas<br />

esporas tilintantes causariam espanto e a admiração em todos, principalmente no<br />

menino mais velho, e na cachorra Baleia. Ain<strong>da</strong> era um menino como qualquer<br />

outro, com sonhos e expectativas, que enxergam na figura paterna um arquétipo do<br />

gran<strong>de</strong> herói <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />

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