Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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Os pais eram a representação dos seus antepassados. As crianças eram a<br />
repetição futura dos pais, sem possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças, sem chance <strong>de</strong> melhoria,<br />
envolvidos no ciclo vicioso <strong>da</strong> <strong>de</strong>sgraça.<br />
Além do exposto acima, mais na<strong>da</strong> se sabe dos meninos. Nem mesmo a<br />
i<strong>da</strong><strong>de</strong> dos mesmos é relata<strong>da</strong>. Ao leitor cabe imaginar duas crianças pequenas,<br />
franzinas, mãozinhas finas e cara suja <strong>de</strong> lama. O autor, no entanto, fez um pequeno<br />
afago na triste reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos meninos: somente as construções frasais relaciona<strong>da</strong>s<br />
a eles e à Baleia trazem diminutivos, numa possível <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> afeto.<br />
A falta <strong>de</strong> comunicação entre os componentes <strong>da</strong> família os remete à<br />
condição <strong>de</strong> animais, incapazes <strong>de</strong> se manifestar verbalmente. Fabiano e os seus<br />
são reduzidos a criaturas, num processo <strong>de</strong>nominado zoomorfização, que teve início<br />
na <strong>liter</strong>atura brasileira <strong>de</strong>ntro do movimento naturalista, influenciado diretamente<br />
<strong>pel</strong>as teorias <strong>da</strong>rwinistas do século XX.<br />
A família, composta por seres analfabetos, ignorantes, não <strong>de</strong>monstra sinais<br />
<strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. A opressão <strong>da</strong> natureza, alia<strong>da</strong> ao grave problema social que os<br />
cercava, tirou <strong>de</strong>les qualquer sinal que os aproximasse <strong>de</strong> homens. Eram bichos,<br />
capazes <strong>de</strong> sobreviver as agruras diárias. Se fossem homens, certamente a seca os<br />
venceria, conforme o fez com Tomás <strong>da</strong> bolan<strong>de</strong>ira. A zoomorfização <strong>da</strong> família fez-<br />
se necessária, portanto vital, na relação simbiótica que eles <strong>de</strong>senvolviam com o<br />
meio.<br />
A análise estrutural <strong>da</strong> narrativa, executa<strong>da</strong> por Afonso Romano <strong>de</strong> Sant’ana<br />
(1973, p.178), afirmou que o romance apresenta mais aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia do que<br />
<strong>de</strong> análise, <strong>de</strong>vido à colocação dos sujeitos <strong>da</strong> narrativa num grau zero <strong>de</strong> valores,<br />
Vi<strong>da</strong>s secas é, portanto, a obra <strong>da</strong> linguagem sobre a não-linguagem (dialética<br />
essencial <strong>da</strong> obra), on<strong>de</strong> o autor é o inverso simétrico <strong>de</strong> seus personagens. Sendo<br />
uma obra sobre a miséria <strong>da</strong> não-linguagem, a mesma edifica-se como obra <strong>de</strong><br />
linguagem totalizante que abrange dialeticamente seus contrários. Com efeito, só a<br />
linguagem conscientemente articula<strong>da</strong> po<strong>de</strong> refletir a imagem <strong>da</strong> não-linguagem, e<br />
neste caso o fracasso do personagem é inversamente proporcional ao êxito <strong>de</strong> seu<br />
autor.<br />
Ao autor Graciliano coube a tarefa <strong>de</strong> mostrar pessoas fragmenta<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro para fora, estados <strong>de</strong> alma, reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s verossímeis, embora abafa<strong>da</strong>s <strong>pel</strong>a<br />
negação do lógico.<br />
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