Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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homem, e afirma isso usando um verbo no presente. Um pouco mais adiante, ele se<br />
arrepen<strong>de</strong>, e volta a se julgar um relés empregado, que não merece ser consi<strong>de</strong>rado<br />
um homem. Neste momento, o verbo é conjugado no pretérito imperfeito, o que<br />
marca a impermanência, a provisorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste sentido.<br />
O jogo verbal teria, <strong>de</strong>ssa forma, a função principal <strong>de</strong> fazer com que o leitor<br />
perceba as mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> pensamentos dos personagens e a presença do narrador,<br />
que se mostra através do uso dos imperfeitos e do pretérito mais-que-perfeito, já que<br />
as poucas frases atribuí<strong>da</strong>s à Fabiano são compostas por verbos no presente do<br />
indicativo, contrastando claramente com as que marcam a presença do narrador.<br />
O recurso <strong>da</strong> metalinguagem na composição do texto favoreceu em muito a<br />
relação narrador/leitor, e a reflexão <strong>de</strong>ste leitor sobre a sua própria língua, já que<br />
permite um retorno constante <strong>da</strong> linguagem em direção a seu próprio código,<br />
funcionando como a explicação <strong>da</strong> língua por ela própria, sendo, portanto, um<br />
recurso <strong>da</strong> auto-reflexão poética.<br />
Segundo Mesquita (1997, p.17), metalinguagem é um fenômeno <strong>da</strong><br />
linguagem, pois, esta tem função metalingüística quando discorre sobre o seu<br />
próprio conteúdo. É, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a própria linguagem que está em jogo. O emissor<br />
utiliza-se do código lingüístico para transmitir reflexões sobre si mesmo. O que<br />
ocorre é que a própria linguagem é discuti<strong>da</strong> e posta em <strong>de</strong>staque. O emprego <strong>da</strong><br />
função metalingüística em <strong>liter</strong>atura discute a própria criação artística.<br />
Os diversos recursos utilizados por Graciliano na <strong>montagem</strong> <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>s secas<br />
são notáveis, porém, nenhum é tão especial quanto a posição do narrador. Este<br />
ocupa o lugar <strong>da</strong> terceira pessoa do discurso, e este romance marca a estréia do<br />
autor nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita. A escolha <strong>pel</strong>o uso <strong>da</strong> terceira pessoa acabou<br />
gerando uma questão prática que influenciaria no <strong>de</strong>senrolar <strong>da</strong> trama. Como a<br />
família se manifestaria, já que não era articula<strong>da</strong>? Quem falaria por eles? Ficariam<br />
lançados à própria sorte, abandonados até mesmo <strong>pel</strong>o narrador nos seus<br />
<strong>de</strong>sencantos?<br />
Para suprir a carência lingüística <strong>da</strong> família, o autor lançou mão <strong>de</strong> uma<br />
importante característica <strong>da</strong> narração em terceira pessoa, a onisciência narrativa,<br />
além <strong>da</strong> presença do discurso indireto livre. Graciliano teria visto na escolha <strong>de</strong>ste<br />
foco narrativo um modo <strong>de</strong> se sol<strong>da</strong>r “no mesmo fluxo o mundo interior e o mundo<br />
exterior”, sem romper a verossimilhança <strong>da</strong> construção narrativa (CÂNDIDO, 1992,<br />
p. 90).<br />
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