Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ironicamente, é a cachorra Baleia o ser mais social, amoroso e pensante <strong>da</strong><br />
família. A obra mostra o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanização <strong>de</strong> Fabiano, e <strong>da</strong> ascensão<br />
Baleia à condição humana. Ela representa a construção mais humana do livro.<br />
Fabiano consi<strong>de</strong>rava a cachorra um bicho, on<strong>de</strong> estará empregado o sentido<br />
duplo do termo: “animal/esperteza, positivo/negativo” (SANT’ANA, 1973, p.156). E<br />
sua esperteza permitia que ela sonhasse com um osso com tutano, boiando em<br />
caldo grosso, enquanto faz companhia solidária ao menino mais velho, chateado por<br />
não enten<strong>de</strong>r a palavra inferno:<br />
O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-se para não magoá-lo,<br />
sofria a carícia excessiva. O cheiro <strong>de</strong>le era bom, mas estava misturado<br />
com emanações que vinham <strong>da</strong> cozinha. Havia ali um osso. Um osso<br />
graúdo, cheio <strong>de</strong> tutano e com alguma carne (RAMOS, 2000, p.62).<br />
A cachorra humaniza<strong>da</strong> representava o integrante mais afetivo e mais<br />
sociável <strong>da</strong> família. As aparições <strong>de</strong>la no romance são cerca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> diminutivos, que<br />
acabam <strong>de</strong>ixando o texto, tão seco, um pouco mais gracioso.<br />
A <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Baleia na obra, influencia<strong>da</strong> <strong>pel</strong>a ação <strong>da</strong> antropomorfização,<br />
alia<strong>da</strong> aos adjetivos, encanta o leitor. Emociona a posição <strong>da</strong> cachorra em relação à<br />
família. Ela enten<strong>de</strong> que precisa cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong>les, sabe <strong>de</strong> suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, está<br />
sempre à frente <strong>de</strong>les, escolhendo o melhor caminho, protegendo Fabiano e os<br />
meninos.<br />
O processo <strong>de</strong> humanização <strong>de</strong> Baleia tem seu ápice no episódio que narra a<br />
sua morte. Este é sem dúvi<strong>da</strong> o capítulo mais belo <strong>da</strong> narrativa <strong>liter</strong>ária, embora seja<br />
o mais trágico.<br />
A cachorra tem plena consciência <strong>de</strong> que algo vai lhe acontecer. Estranha a<br />
atitu<strong>de</strong> do dono, tem medo <strong>de</strong>le. Tenta fugir do <strong>de</strong>sconhecido, mas é atingi<strong>da</strong> por um<br />
tiro <strong>da</strong>do por Fabiano. As crianças <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong>s sofrem por Baleia. Os adultos<br />
também. Fabiano, porém, obrigou-se a matar a cachorra, que doente, podia, quem<br />
sabe, mor<strong>de</strong>r os meninos. O sertanejo ain<strong>da</strong> tentou salvá-la com uma simpatia<br />
amarra<strong>da</strong> no pescoço, mas a mesma não surtiu efeito, e o sacrifício se mostrou<br />
como a única maneira <strong>de</strong> se proteger as crianças do ataque do cão hidrofóbico.<br />
A chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> morte fez com que Baleia tivesse pensamentos entrecortados,<br />
próximos ao fluxo <strong>de</strong> consciência. Ela queria mor<strong>de</strong>r o dono, mas ao mesmo tempo<br />
81