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Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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que o mesmo relesse a obra a seu modo, sem feri-la, somente <strong>da</strong>ndo a ela novos<br />

contornos.<br />

A relação dialógica entre o hipertexto e o hipotexto aconteceu <strong>de</strong> forma<br />

bastante coerente e principalmente, respeitosa. O cineasta soube, acima <strong>de</strong> tudo,<br />

incorporar a sua releitura os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong>núncia que compunham o romance, e<br />

os retratou mostrando o flagelo <strong>da</strong> seca através <strong>de</strong> lentes sem filtro e toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

cena subjetivas, que inserem sem perdão o espectador à crua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />

personagens.<br />

A transposição <strong>da</strong> cena <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> cachorra Baleia, tão lírica na obra escrita,<br />

não se mostrou menos comovente na sua passagem para o hipertexto, levando-se<br />

em consi<strong>de</strong>ração to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas que a mesma apresentava.<br />

Ao estu<strong>da</strong>r a a<strong>da</strong>ptação fílmica <strong>de</strong> um romance tão representativo como<br />

Vi<strong>da</strong>s secas, preten<strong>de</strong>u-se contribuir <strong>de</strong> forma direta para com os estudos que hoje<br />

relacionam a ruptura provoca<strong>da</strong> <strong>pel</strong>a leitura cinematográfica à tradição do texto<br />

<strong>liter</strong>ário, além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> real <strong>de</strong> somar a estudos já concluídos um novo olhar<br />

sobre o Mo<strong>de</strong>rnismo e o Cinema Novo, movimentos tão fecundos quanto vitais no<br />

que se relaciona à produção <strong>de</strong> arte engaja<strong>da</strong> e comprometi<strong>da</strong> no Brasil.<br />

O romance Vi<strong>da</strong>s secas e a catarse que ele provoca merecem sucessivas e<br />

eluci<strong>da</strong>tivas leituras. Essa obra <strong>de</strong>sperta no pesquisador uma sensação <strong>de</strong> respeito,<br />

reverência, mas acima <strong>de</strong> tudo curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual. A história <strong>da</strong> família<br />

nor<strong>de</strong>stina flagela<strong>da</strong> é, em si, muito comovente. Muito maior, porém, é o<br />

“estranhamento” provocado <strong>pel</strong>o contato direto com o entrelaçamento <strong>da</strong> narrativa,<br />

tão inteligente, tão intrigante e tão maleável, aberta a várias possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

remontagens.<br />

A intersemiótica proposta na a<strong>da</strong>ptação entre o hipertexto e o hipotexto <strong>de</strong><br />

Vi<strong>da</strong>s secas baseia-se, portanto, não na fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> à obra <strong>de</strong> origem, mas sim em<br />

uma nova leitura <strong>da</strong> mesma, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, capaz <strong>de</strong> reviver, criticar e até mesmo<br />

recriar o texto base.<br />

O cineasta Nélson Pereira dos Santos, após a análise <strong>de</strong>sta pesquisa, po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rado duplamente vitorioso. Num primeiro momento, por ter conseguido<br />

transpor <strong>de</strong> forma tão coerente um romance marcado por <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>s nuances, e, em<br />

segundo, por oferecer a segui<strong>da</strong>s gerações a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ver na tela uma obra<br />

<strong>liter</strong>ária tão importante, transposta com maestria.<br />

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