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Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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Esta crítica gera outras, relaciona<strong>da</strong>s à má distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>s e, por<br />

conseguinte, à luta <strong>de</strong> classes. Fabiano tinha sua mão-<strong>de</strong>-obra expropria<strong>da</strong> porque<br />

precisava sustentar sua família, e era extorquido <strong>pel</strong>o dominante, o patrão, que se<br />

sentia confortável com a situação do vaqueiro, não se importando em mantê-la. Já<br />

Fabiano se sentia injustiçado, mas permanecia entre a revolta e a passivi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

aceitando a segun<strong>da</strong> opção, <strong>de</strong>vido a sua impotência.<br />

A escravidão informal também é retrata<strong>da</strong> por Graciliano com bastante<br />

sutileza. Ele mostra que Fabiano tinha para com o patrão uma dívi<strong>da</strong> crônica,<br />

trabalhando para se endivi<strong>da</strong>r ca<strong>da</strong> vez mais. O vaqueiro era obrigado a recorrer ao<br />

patrão para tudo, até mesmo as botinas <strong>de</strong> couro que lhe calçavam os pés<br />

pertenciam a este último. Fabiano <strong>de</strong>via tudo ao patrão, mas acreditava que não<br />

tinha direito <strong>de</strong> queixar-se. Seu <strong>de</strong>stino era fugir. Sem condições <strong>de</strong> sal<strong>da</strong>r suas<br />

dívi<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> quase tudo, inclusive do orgulho, acuado <strong>pel</strong>a estrutura social,<br />

<strong>pel</strong>a miséria e <strong>pel</strong>a seca, fugiu, com a pouca mu<strong>da</strong>nça nas costas, carregando<br />

consigo a família e os sonhos.<br />

A estrutura capitular maleável <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>s Secas permitiu que a mesma fosse<br />

remonta<strong>da</strong> no cinema. Um filme, a principio, conta com uma história muito bem<br />

liga<strong>da</strong>, seqüencial, com diversos personagens, que se utilizam <strong>de</strong> variados recursos,<br />

como por exemplo, a fala, para se fazerem enten<strong>de</strong>r. O romance Vi<strong>da</strong>s secas,<br />

apesar <strong>de</strong> não aten<strong>de</strong>r aos aspectos acima expostos, foi transposto para o cinema<br />

por Nélson Pereira dos Santos que, ao a<strong>da</strong>ptá-lo, aproveitou-se <strong>da</strong> <strong>montagem</strong><br />

<strong>liter</strong>ária fragmenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> Graciliano para fazer sua própria leitura <strong>da</strong> obra,<br />

remontando-a a seu modo.<br />

A gran<strong>de</strong> questão que envolveu to<strong>da</strong> a pesquisa foi até que ponto a<br />

a<strong>da</strong>ptação do cineasta foi pertinente. Não importando, por conseguinte, para o<br />

corpus <strong>de</strong>ste trabalho, investigar a beleza <strong>da</strong> <strong>montagem</strong> cinematográfica do<br />

romance, mas sim sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> como obra transposta do hipotexto para o<br />

hipertexto. A transposição <strong>de</strong> um trabalho <strong>liter</strong>ário para o cinema exige, sobretudo,<br />

a<strong>de</strong>quação às especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> linguagem, sem que as obras percam sua<br />

autonomia.<br />

A análise do hipertexto Vi<strong>da</strong>s Secas, levando-se em consi<strong>de</strong>ração os fatores<br />

políticos e culturais que cercaram a transposição, além é claro, <strong>da</strong> época na qual as<br />

filmagens ocorreram, é a mais positiva possível. O cineasta Nélson Pereira dos<br />

Santos soube colocar a fragmentação do romance a seu favor, o que possibilitou<br />

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