Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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• Sinha Vitória<br />
filogenético ele se acha miseravelmente situado. Não evolui. Não soma.<br />
Não articula (SANT’ANA, 1973, p.179).<br />
O personagem feminino representado por sinha Vitória é bastante<br />
surpreen<strong>de</strong>nte. Concebi<strong>da</strong> por um nor<strong>de</strong>stino no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30, época on<strong>de</strong><br />
as mulheres ain<strong>da</strong> eram vistas como seres bem inferiores, essa mulher em questão<br />
era bem diferente.<br />
Nor<strong>de</strong>stina, mestiça, era ela, sem dúvi<strong>da</strong> a mais inteligente entre os<br />
componentes <strong>da</strong> família. Responsável <strong>pel</strong>as contas familiares, tinha noção <strong>de</strong> que<br />
estavam sendo enganados <strong>pel</strong>o patrão, porém, como também era incapaz <strong>de</strong> se<br />
articular verbalmente, acabava <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>pel</strong>o marido, quando afirmava<br />
estarem sendo roubados.<br />
Era tarefa <strong>de</strong>la também carregar o baú <strong>de</strong> folha na cabeça, on<strong>de</strong> estavam<br />
<strong>de</strong>positados os únicos bens <strong>da</strong> família. Foi ela quem enten<strong>de</strong>u a aproximação <strong>de</strong><br />
uma nova seca, apenas <strong>pel</strong>a observação <strong>da</strong>s arribações. Fabiano, ao contrário, não<br />
entendia a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s aves, e muito menos compreendia a fala <strong>de</strong> sinha Vitória<br />
que creditava a morte do gado a tal fato:<br />
[...] Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher<br />
<strong>de</strong>sconfiado, julgou que ela tivesse tresvariando. Foi sentar-se no banco do<br />
copiar, examinou o céu lindo, cheio <strong>de</strong> clari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mau agouro que a<br />
sombra <strong>da</strong>s arribações cortava. Um bicho <strong>de</strong> penas matar o gado!<br />
Provavelmente sinha Vitória não estava regulando (RAMOS, 2000, p.108).<br />
Além <strong>da</strong> cor amulata<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>pel</strong>e, <strong>da</strong> cara murcha, do cabelo preso num coque,<br />
<strong>da</strong> saia <strong>de</strong> ramagem e do colar <strong>de</strong> contas azuis e brancas no pescoço, conhece-se<br />
pouco <strong>da</strong> aparência <strong>da</strong> nor<strong>de</strong>stina. Para Graciliano, foi muito mais útil <strong>de</strong>screver<br />
suas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e anseios do que suas características físicas.<br />
O autor batizou seu personagem <strong>de</strong> sinha, sem acento, ao contrário <strong>de</strong> sinhá,<br />
vocábulo mais comum, que possui um acento agudo 1 . A origem do vocábulo sinhá<br />
remete ao tempo <strong>da</strong> escravidão, já que era a forma com que os escravos tratavam<br />
as esposas <strong>de</strong> seus senhores. Com a abolição, o vocábulo acabou caindo em<br />
<strong>de</strong>suso.<br />
1 Segundo a Gramática <strong>da</strong> Língua Portuguesa, <strong>de</strong> Roberto Melo Mesquita (2001, p.120), os termos<br />
têm distinções bastante claras em Alagoas: as sinhás são as mulheres ricas, as esposas dos<br />
fazen<strong>de</strong>iros, e as sinhas são as mulheres pobres, humil<strong>de</strong>s.<br />
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