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Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

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sonha e precisa. A casa seria, portanto, um abrigo, uma proteção só compara<strong>da</strong> ao<br />

útero materno. A dialética interior/exterior que o autor propôs em sua obra, levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração a leitura <strong>da</strong>s imagens poéticas, em função <strong>de</strong> um conhecimento <strong>de</strong><br />

mundo do indivíduo, representa uma forma eficaz <strong>de</strong> leitura dos valores dos espaços<br />

que o cercam.<br />

A casa <strong>de</strong> sinha Vitória seria, <strong>de</strong>ssa forma, uma celebração <strong>da</strong> intimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, do<br />

reconforto, um signo <strong>de</strong> acalento. Seguindo este mesmo raciocínio, baseado na<br />

poética <strong>da</strong> casa como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, a mesma seria a mola mestra. Ligados<br />

diretamente a ela, estariam os valores que a compõem. Neste caso específico, a<br />

cama <strong>de</strong> couro. A casa funcionaria, portanto, como um ninho no mundo; um ninho<br />

que é o centro <strong>de</strong> um mundo.<br />

Em tempo: um fato surpreen<strong>de</strong>nte em torno <strong>de</strong> sinha Vitória, Tomás <strong>da</strong><br />

bolan<strong>de</strong>ira e a cama foi revelado <strong>pel</strong>o filho do próprio escritor, Ricardo Ramos 2 , em<br />

uma obra biográfica sobre o pai:<br />

• Meninos<br />

[...] não fica tão fácil, <strong>de</strong> um prisma histórico, localizar a mulata sinha Vitória<br />

e o alourado Fabiano em plena ascensão do fascismo, com o mito <strong>da</strong><br />

superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> racial ariana, ela cafusa e inteligente a dirigir o marido branco<br />

e bruto. Mas que isso, o que poucos percebem, capaz <strong>de</strong> enganá-lo.<br />

(Como é que ia saber <strong>da</strong> cama <strong>de</strong> couro <strong>de</strong> seu Tomás <strong>da</strong> bolan<strong>de</strong>ira?) [...]<br />

Confesso: se não tivesse ouvido do próprio Graciliano, dificilmente chegaria<br />

a tal aproximação (1992, p.40).<br />

As crianças <strong>da</strong> família <strong>de</strong> retirantes são o retrato do que é ser uma criança<br />

assola<strong>da</strong> <strong>pel</strong>a seca e abandona<strong>da</strong> <strong>pel</strong>o Estado. Por serem tantas estas crianças,<br />

que nascem e morrem aos montantes, o autor nem sequer as batizou, lembrando<br />

que os filhos <strong>da</strong> seca não tem direito a na<strong>da</strong>, nem mesmo i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em um<br />

trabalho intitulado A personagem do romance, Antônio Cândido <strong>de</strong>clarou que:<br />

A personagem <strong>de</strong> um romance constitui uma espécie <strong>de</strong> paradoxo, pois é<br />

uma ficção que, no entanto, ao mesmo tempo, existe. Há uma relação entre<br />

o ser vivo e o ser fictício que se po<strong>de</strong> exemplificar com a categoria<br />

“personagem”. (2005, p.60).<br />

2 Ricardo <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Ramos, filho mais velho <strong>de</strong> Graciliano e Heloísa, morreu em 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

1992. Mesmo dia e mês que seu pai morrera, trinta e nove anos antes, e <strong>da</strong> mesma causa: câncer.<br />

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