Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
3 DO PAPEL À PELÍCULA<br />
3.1 DESMONTAGEM DA NARRATIVA LITERÁRIA<br />
O escritor Graciliano Ramos, alguns meses após ter sido libertado <strong>da</strong> prisão,<br />
escreveu um conto sobre uma ca<strong>de</strong>la, cuja morte, segundo artigo publicado <strong>pel</strong>o<br />
Jornal do Brasil <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1998, ele realmente havia presenciado quando<br />
criança no interior <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
Neste conto, o autor procurou transmitir os sentimentos <strong>da</strong> cachorra à beira<br />
<strong>da</strong> morte, servindo <strong>de</strong>ssa forma, como porta-voz e tradutor dos temores caninos.<br />
Após escrevê-lo, Graciliano o ven<strong>de</strong>u para publicação em um jornal.<br />
Devido às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras que o autor enfrentava, o dinheiro ganho<br />
com a publicação lhe era indispensável. O mesmo chegou a se arrepen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ter<br />
vendido o conto, porém não podia pegá-lo <strong>de</strong> volta e per<strong>de</strong>r o dinheiro já embolsado.<br />
O autor Graciliano teve ao seu lado, durante boa parte <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>, uma<br />
mulher <strong>de</strong> muita fibra. A segun<strong>da</strong> esposa, Heloísa Ramos, alagoana, foi umas <strong>da</strong>s<br />
gran<strong>de</strong>s responsáveis <strong>pel</strong>a libertação do marido <strong>da</strong> prisão, período no qual teve suas<br />
filhas pequenas espalha<strong>da</strong>s <strong>pel</strong>as casas <strong>de</strong> parentes, enquanto buscava quem<br />
lutasse <strong>pel</strong>os direitos do marido.<br />
Após sua libertação, trabalhava durante as manhãs, assumindo as contas <strong>da</strong><br />
família, e diariamente, após o almoço, levava as crianças ao Largo do Machado, um<br />
bairro <strong>da</strong> capital carioca, para que o marido pu<strong>de</strong>sse dormir, já que ele consumia<br />
suas madruga<strong>da</strong>s na elaboração <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>s secas. A esposa era a sua mais fiel<br />
ouvinte, atenta à sonori<strong>da</strong><strong>de</strong> do romance, que aos poucos ia se concretizando.<br />
Temeroso com uma possível má reação <strong>de</strong> seus amigos intelectuais, frente a<br />
um conto que tratava <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> um animal, e certo <strong>de</strong> que tinha errado ao vendê-<br />
lo, Graciliano permaneceu recluso em sua casa durante os dois dias seguintes à<br />
publicação <strong>de</strong>ste. Quando resolveu sair, foi surpreendido <strong>pel</strong>as opiniões que ele<br />
tanto temia. Seus amigos, ao contrário do que ele esperava, o parabenizaram <strong>pel</strong>o<br />
trabalho.<br />
A boa recepção <strong>de</strong> “Baleia” estimulou Graciliano a <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> à história<br />
envolvendo a cachorra. Ele passou a escrever contos sobre uma família <strong>de</strong>