Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...
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A história li<strong>da</strong> sofre várias mu<strong>da</strong>nças ao ser transposta, e é este o momento<br />
<strong>de</strong> epifania que liga as duas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformação do<br />
pa<strong>pel</strong> para a tela.<br />
O cinema não permite pausas. O livro, em certos momentos, exige que se<br />
pare. O cinema é automático, registra e representa. O romance analisa. O cinema<br />
comporta variados materiais <strong>de</strong> expressão. O romance conta somente com a<br />
construção <strong>da</strong> linguagem verbal, que po<strong>de</strong> ser valoriza<strong>da</strong> <strong>pel</strong>o uso <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong><br />
linguagem, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> unicamente <strong>de</strong>la.<br />
A <strong>liter</strong>atura e o cinema, como se vê, são campos <strong>de</strong> produção distintos,<br />
embora altamente relacionáveis, como que num dialogismo intertextual. É<br />
impossível, portanto, estabelecer uma comparação <strong>de</strong> valores entre a <strong>liter</strong>atura e o<br />
cinema, já que, como <strong>de</strong>monstrado, tratam-se <strong>de</strong> dois meios <strong>de</strong> produção cultural<br />
distintos. A idéia perfeita <strong>de</strong> comparação entre os campos seria, portanto, basea<strong>da</strong><br />
num diálogo, já que se esperar <strong>de</strong> um cineasta a mesma perspectiva <strong>de</strong> um autor,<br />
distanciados por condutas <strong>de</strong> trabalho e até mesmo <strong>de</strong> tempo seria, antes <strong>de</strong> tudo,<br />
um <strong>de</strong>vaneio.<br />
A obra escrita <strong>de</strong>verá assumir unicamente o pa<strong>pel</strong> <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong><br />
para a transposição. O autor <strong>da</strong> obra <strong>liter</strong>ária <strong>de</strong>veria assumir, portanto, postura<br />
<strong>de</strong>sprendi<strong>da</strong> semelhante, já que em muitos casos, este renega a transposição<br />
cinematográfica <strong>da</strong> sua obra, por acreditar que a mesma não alcançou o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro<br />
sentido <strong>da</strong> obra, ou pior, por absoluto fun<strong>da</strong>mentalismo autoral. Segundo Umberto<br />
Eco, existe a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o autor “morrer” <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter escrito, para não<br />
perturbar o caminho do texto:<br />
Desta forma, cabe ao produtor <strong>de</strong> <strong>liter</strong>atura apagar-se em prol <strong>de</strong> leituras<br />
plurais, que a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva dos textos solicita, <strong>de</strong> maneira a não<br />
cair em tentação autoral <strong>de</strong> fixar o sentido dos textos que produz, ce<strong>de</strong>ndo<br />
o “seu” texto ao cinema, esperando <strong>da</strong> sétima arte <strong>de</strong>sempenhos<br />
interpretativos que briguem com o(s) sentido(s) <strong>de</strong>sse texto, que o<br />
enriqueçam com um constante conflito <strong>de</strong> interpretações, reconduzindo<br />
dinamicamente a sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> significativa (1976, p.14).<br />
Um outro empecilho que impe<strong>de</strong> a exigência <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> no momento <strong>da</strong><br />
transposição é o público alvo, aquele que <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> a quem a obra se <strong>de</strong>stina.<br />
Uma obra escrita exige uma série <strong>de</strong> competências para ser entendi<strong>da</strong>. O cinema,<br />
por sua vez, mostra-se, na maioria dos casos, <strong>de</strong> entendimento mais simples.<br />
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