Papel e pel-355cula da montagem liter-341ria - Centro de Ensino ...

Somente em 18 de agosto de 1945, Graciliano Ramos se filiou formalmente
ao PCB, a convite de Luís Carlos Prestes. A filiação de um escritor tão consagrado
foi encarada como um prêmio, um troféu, pois os dirigentes do Partido acreditavam
que a presença do mesmo atrairia outros intelectuais ao Partido.
Porém, a relação de Graciliano Ramos com os dirigentes do PCB era
conflituosa e autônoma. Ele questionava diversas ordens, como por exemplo, as que
determinavam que os filiados exercessem tarefas iguais, sendo eles operários ou
intelectuais. E se declarava incapaz para exercer tarefas como pichar paredes e
fazer flores de papel, que seriam vendidas em feiras e quermesses.
Graciliano foi, portanto, um comunista discreto, que só freqüentava a célula
Theodore Dreiser, composta na sua maioria por escritores comunistas, fazendo
discursos quando solicitado, a despeito de sua dificuldade de falar em público.
O autor chegou a concorrer pelo PCB ao cargo de Deputado Federal pelo
Estado de Alagoas, mas como se não quisesse ser eleito, não saiu em campanha,
como seria de se esperar. Limitou-se a enviar aos amigos um manifesto que
comunicava sua candidatura, e talvez por este motivo tenha perdido a eleição.
As células partidárias do PCB espalhadas pelo Brasil, segundo a visão de
Graciliano, poderiam servir para descobrir talentos literários por todo o país,
aumentado, portanto, a chance de pessoas das classes sociais mais baixas terem
reconhecimento. As ramificações do Partido pelo Brasil ficariam responsáveis por
recolher o material, e enviá-lo para a célula Theodore Dreiser, que ficaria
responsável por ler o material enviado, selecionar aqueles que demonstrassem
qualidade literária, e preparar estes autores para uma possível carreira como
escritores. A idéia de Graciliano vazou para a imprensa antes mesmo do autor
comunicá-la à direção do Partido.
A iniciativa de Graciliano foi mal recebida pela direção do Partido, que
encarou a atitude da sua célula como uma quebra de hierarquia. Como punição, a
mesma foi dissolvida.
Graciliano Ramos, apesar de ter sido preso em 1936 por comunismo, só
participou realmente do Movimento Comunista de 1945 a 1953, ano de seu
falecimento. Vale a pena ressaltar que em 1947 o PCB voltou à clandestinidade, e
este autor permaneceu filiado, só que desta vez a polícia não o incomodou, apesar
de ter ciência do fato.
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