Revista nº 101 (A) - IGHB

Misericórdia do Rio de Janeiro indicou um advogado para
defendê-lo. Foi essa defesa judicial o documento que eu li
em 1982 na sala de leitura da Seção de Manuscritos da
Biblioteca Nacional. Todavia lamento informar que a defesa
de nada valeu para o soldado paulista e que ele foi
condenado às galés por toda a vida.
A História trabalha com o tempo e o espaço. Os episódios
da Independência do Brasil são os episódios da Independência
do Brasil. Têm o seu tempo e o seu espaço. Avalio que o
tempo da Independência do Brasil decorreu de 1817 a 1831.
O seu espaço foi o Brasil. Quero dizer: não só o Brasil do
Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, ou o Brasil do
Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, ou o Brasil do Piauí,
Maranhão, Pará e Amazonas, ou o Brasil de Goiás e Mato
Grosso, ou o Brasil do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, mas, isto sim, o Brasil de todos os seus pedaços, o
Brasil de todas as suas regiões. Mas não se deve esquecer
uma verdade: aquele Brasil estava agudamente dividido,
realidade que também explica porque a Independência do
Brasil se processou em cada uma das províncias em tempo
e forma diferentes.
Reconheço que é muito difícil marcar qualquer tempo
e espaço na História. Sempre há problemas. Esse tempo
que estou sugerindo para a Independência do Brasil é um
exemplo. Ele pede que se considere que 1817-1831 foi um
tempo de alterações políticas, sociais e econômicas na
Europa, nos Estados Unidos, no México e nas Américas
Central e do Sul. No entanto avalio que é aconselhável
examinar o tempo histórico da Independência do Brasil
antes de examinar as alterações mundiais que por certo
lhe exerceram influência.
Vou começar pela revolução de 1817. Ainda hoje ela se
mantêm na História do Brasil como se fosse apenas um
acidente histórico da província de Pernambuco. E veja-se!
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Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. 101, p. 301-314, 2006