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Revista nº 101 (A) - IGHB

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colonizado não tem ser próprio, uma vez que o seu<br />

ser é o ser do “outro”, para o qual foi transferida ou<br />

alienada a sua liberdade.<br />

Ouça-se, então, a voz da “mimosa flor das escravas”,<br />

que ecoa no oitavo e derradeiro canto: “‘Eu naquele leito<br />

brando / Rolava alegre cantando ... / Súbito ... um ramo<br />

estalando / Salta um homem junto a mim!”’.<br />

Inicia-se, portanto, a partir dos poemas “No Campo” e<br />

“No Monte”, a descrição da fuga da negra por entre os<br />

campos sertanejos. Evidencia-se, nos textos acima, a<br />

tentativa desesperada da escrava em escapar do insano<br />

desejo do homem branco de possui-la. As cenas da<br />

perseguição vão sendo descritas com labor lírico a partir<br />

do primeiro poema supracitado. A natureza agora não é<br />

mais cúmplice do amor que pululava dos corações de Lucas<br />

e Maria. A floresta é uma “madrasta impiedosa” que parece<br />

não querer abrigar uma “pobre chorosa”.<br />

Nos caminhos percorridos pela mulata, os obstáculos<br />

pareciam cada vez mais difíceis, havendo torrentes,<br />

rochedos, cimos ardentes, espinhos com os quais marcavam<br />

com sangue seus passos. O impulso erótico e a libido<br />

desenfreada do algoz pareciam fortalecê-lo nessa caçada<br />

na qual Maria é a presa que deve ser degustada sexualmente<br />

pelo caçador, este que, cada vez, está mais próximo da sua<br />

caça. Atentar-se-á, então, para algumas passagens do texto<br />

mencionado, pois nele Maria continua a contar para seu<br />

amado os cruéis momentos de sua vida (1997, 340 – 341):<br />

“Fugi desvairada!<br />

Na moita intrincada,<br />

Rasgando uma estrada,<br />

Fugaz me embrenhei.<br />

Apenas vestindo<br />

Meus negros cabelos,<br />

E os seios cobrindo<br />

Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. <strong>101</strong>, p. 39-52, 2006<br />

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