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Revista nº 101 (A) - IGHB

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“bom negro” e da mulher cordial, submissa ao homem,<br />

servindo quitutes ao senhor e saciando seus impulsos instintivos<br />

e falocráticos. O casal de escravos, tendo clareza da<br />

real situação na qual se encontra, busca a morte como esperança<br />

de viver uma liberdade ainda não alcançada. Nesse<br />

sentido, é relevante sentenciar que a poesia social de Castro<br />

Alves se contrapõe à imagem do cânone do século XIX que,<br />

segundo Roberto Reis (1992, p. 80), tornava relevante<br />

temáticas “como indianismo e o sertanismo”. Tendências que,<br />

conforme assevera o crítico, “são esforços para captar a cor<br />

local do país e o ethos brasileiro”, tendo em vista que “uma<br />

considerável parcela da produção literária do Brasil oitocentista<br />

acaba se configurando como uma espécie de autoretrato<br />

das elites que a produziam e consumiam.”<br />

Voltando à obra aqui em questão, ver-se-á que a partir do<br />

poema “Sangue de Africano” (1997, p. 343), a dramaticidade<br />

do texto começa a alcançar um clima mais tenso, pois,<br />

Lucas, agora sabedor do que havia acontecido com sua amada,<br />

ergue-se “como o tigre bravo ...” , uma espécie de “estátua<br />

terrível da vingança”, com um ar selvagem “crispado o<br />

braço, no punhal segura!” e seu “sangue, que da raça não<br />

desmente, / Sangue queimado pelo sol da Líbia” deixa transparecer<br />

um “gesto bravo ameaçando a imensidade” e como<br />

um “Aquiles furioso”, concentra no “punho a tempestade”.<br />

Mesmo tomado pela revolta, percebe-se que no texto<br />

“Desespero” (1997, p. 346 – 348), o cativo não perde a noção<br />

de que “ser escravo – é nascer no alcoice escuro / Dos seios<br />

infamados da vendida ... / Filho da perdição no berço impuro<br />

/ Sem leite para a boca ressequida ...” Nesse momento maldito,<br />

o sujeito poético, com vigor lírico, possibilita ao leitor<br />

a visibilidade do ódio que desponta das tessituras dos versos<br />

abaixo (1997, p. 346 - 348):<br />

50<br />

“Ó minha mãe! Ó mártir africana,<br />

Que morreste de dor no cativeiro!<br />

Ai! sem quebrar aquela jura insana,<br />

Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia, Salvador, v. <strong>101</strong>, p. 39-52, 2006

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