História da Medicina Tradicional Chinesa 中医历史 - Guias de ...
História da Medicina Tradicional Chinesa 中医历史 - Guias de ...
História da Medicina Tradicional Chinesa 中医历史 - Guias de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
dos conceitos <strong>de</strong>senvolvidos por outra cultura, faz-se através dos critérios próprios <strong>da</strong><br />
nossa, e, <strong>de</strong>ste facto, incapazes <strong>de</strong> os integrar” 6<br />
Ao falarmos <strong>da</strong> <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>Chinesa</strong> não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar que a sua<br />
análise é sempre vista, por nós, numa lógica indutiva, i.e., do particular para o geral, e<br />
numa perspectiva antropológica oci<strong>de</strong>ntal, e que a mesma contém erros nomea<strong>da</strong>mente,<br />
como a que já vimos acima, e que dizem respeito a uma incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> penetrar na<br />
mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> oriental, cuja lógica essencialmente <strong>de</strong>dutiva se movimenta do geral para o<br />
particular.<br />
[…]To<strong>da</strong>s as parteiras chinas e canarias (<strong>da</strong> raça canarim 7 ) curam <strong>de</strong> medicina e <strong>de</strong><br />
quantas enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s há, sem ninguém saber o que elas sabem. E como as mulheres<br />
dos portugueses, as mais <strong>de</strong>las, são chinas ou têm parte disso, são mais afeiçoa<strong>da</strong>s a<br />
este modo <strong>de</strong> cura, por ser o seu natural e, pelo contrário, estranham muito as curas ao<br />
modo português. De maravilha consentem que seus maridos façam uma cura perfeita<br />
ao nosso modo - como muitas vezes aconteceu - que, or<strong>de</strong>nando eu tal ou tal coisa ao<br />
enfermo, ou não lhe aplicar o que se lhe mandou fazer, ou acabam com ele que não<br />
faça. Estando actualmente curando, ao presente, dois portugueses, sem minha or<strong>de</strong>m<br />
chamou-se a ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les a sua parteira, com as quais se curavam e por esta<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m se foram para a outra vi<strong>da</strong> 8 .<br />
Tentando sobrepor o po<strong>de</strong>r curativo do Oci<strong>de</strong>nte ao homónimo chinês, o texto mostra<br />
ain<strong>da</strong> mais um pequeno pormenor, que, no nosso caso, se torna, não só sintomático<br />
como importantíssimo “curam <strong>de</strong> medicina e <strong>de</strong> quantas enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s há, sem<br />
ninguém saber o que elas sabem”. A ignorância acerca do Mundo Asiático,<br />
especialmente o Chinês era uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, exceptuando-se alguma acção no tempo <strong>da</strong><br />
missionação jesuítica.<br />
Aliás, em 1877, o explorador Barão <strong>de</strong> Richthofen afirmava: “Em nenhuma região<br />
alargaram mais seus horizontes os missionários <strong>da</strong> fé cristã, nem fizeram mais<br />
importantes conquistas para a ciência do que na China. À frente <strong>de</strong> todos se nos<br />
<strong>de</strong>param os jesuítas do século XVII e XVIII, sem cuja activi<strong>da</strong><strong>de</strong> tão vasta e profun<strong>da</strong>, a<br />
China, se exceptuarmos a costa, ain<strong>da</strong> hoje seria para nós uma terra <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>” 9 .<br />
Excepções havia acerca do saber milenar chinês, porém, a perspectiva era<br />
maioritariamente ten<strong>de</strong>nciosa no sentido <strong>de</strong> serem os Oci<strong>de</strong>ntais a levar o saber ao<br />
Oriente do que o inverso, e nem sempre com objectivos altruístas: “<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
matemáticas [os chineses] são muito curiosos” 10 ou ain<strong>da</strong> “<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as nações é a<br />
China a que mais aprecia a Matemática e Astronomia com tal excesso que parece faz<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stas ciências a conservação <strong>da</strong> monarquia e o bom governo do Estado” 11 .<br />
6<br />
Ribaute, Alain, “Le barbare cuit, ou comment penser chinois”, “le dificile chemin qui mène <strong>de</strong> la plume<br />
au pinceau, <strong>de</strong> Alpha à Wen”. Revue Française <strong>de</strong> Mé<strong>de</strong>cine Traditionnelle Chinoise. Em publicação.”<br />
7<br />
“habitante do Canará” – “era o nome duma vasta região no planalto dos Gates”[...]”abrangi<strong>da</strong><br />
actualmente por Maiçor e pelos distritos oci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> Hidrabad”. In Dalgado, Sebastião Rodolfo -<br />
«Glossário Luso-Asiático». Asian Educational Services. New Delhi. 1988<br />
8<br />
“Representação” envia<strong>da</strong> <strong>de</strong> Macau em 21 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1625, in J. Caetano Soares, «Macau e a<br />
Assistência», Macau, 1950<br />
9<br />
Richthofen, Ferdinand von – China. Berlim, 1877, I, p. 653<br />
10<br />
Semedo, Padre Álvaro – Imperio <strong>de</strong> la China. Lisboa, 1731, p. 53<br />
11<br />
Bosmans – Documents relatifs à Ferdinan Verbiest. Bruges, 1912, p.12<br />
6