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Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire

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CUIDADO NA ERA DO DESCUIDO: O PROBLEMA DA LINGUAGEM<br />

Parte 4 – Caderno de Atividades<br />

<strong>Paulo</strong> Roberto Monteiro de Araujo<br />

Já é lugar comum falarmos da nossa Era como horizonte de práticas desumanizadoras, no<br />

entanto cabe insistir mais uma vez na mesma pergunta: como superar tais práticas?<br />

Inicialmente, coube à Pedagogia, principalmente a partir do Iluminismo, que tinha como<br />

núcleo principal o conceito de autonomia racional dos indivíduos, a formação sistematizada do<br />

processo de aprendizado das novas gerações. As práticas que vimos ao longo dos últimos dois<br />

séculos (XIX e XX) em relação à formação educacional das crianças e jovens nos mostraram que<br />

o foco pedagógico quase sempre esteve calcado em uma forma de racionalidade procedimental,<br />

isto é, em uma racionalidade que se bastava a si mesma, separada das dinâmicas sociais, bem<br />

como das diversas formas de viver dos grupos humanos.<br />

A linguagem educacional iluminista, apesar dos seus bons intentos em buscar a realização da<br />

autonomia nos indivíduos, esqueceu que a linguagem, como diria o fi lósofo canadense Charles<br />

Taylor, não possui um centro gravitacional em que podemos dar conta do que é o homem.<br />

Taylor, ao falar da não existência de um centro de gravidade da linguagem, procura mostrar<br />

que o homem é um animal que a todo instante está auto-interpretando a si mesmo. Por isso, a<br />

linguagem a cada momento se modifi ca, criando novos signifi cados para as práticas humanas.<br />

Cabe a quem está envolvido com atividades sociais, sejam elas pedagógicas ou não, ter o<br />

cuidado de desenvolver ações e atividades que não se tornem puras mecanizações lingüísticas<br />

que procuram dar conta dos objetivos sócio-pedagógicos por meio de fórmulas universais.<br />

É evidente que para se desenvolver qualquer ação ou atividade é preciso que haja regras.<br />

Entretanto, elas não podem aparecer como simples fórmula que, ao ser usada, vá garantir<br />

o sucesso de aprendizado daquele que realiza a atividade proposta. Daí não basta somente<br />

propor atividades como meio ambiente, saúde, coleta de lixo, identidade pessoal, entre outros<br />

temas, se não houver um cuidado com a linguagem. O problema que surge, então, relaciona-se<br />

com os dois tipos de linguagem que se desenvolveram no Ocidente Moderno e Contemporâneo:<br />

a linguagem designativa e a linguagem expressivista. A primeira se refere a uma forma de<br />

defi nir as coisas de modo instrumental. Deste modo, a linguagem designativa se limita a servir<br />

aos propósitos de quem a utiliza para distinguir as idéias por meio de termos designados<br />

antecipadamente. Por isso, quem trabalha com atividades educacionais precisa ter o cuidado<br />

para não ver o outro como alguém que é defi nido como ignorante ou utilizar termos préestabelecidos<br />

pelo status quo sem considerar as particularidades culturais do grupo com o qual<br />

irá desenvolver uma determinada atividade. Já para segunda, a linguagem não é um simples<br />

envelope exterior do pensamento, nem um instrumento que poderíamos a princípio dominar e<br />

apreender integralmente. A preocupação da linguagem expressivista é possibilitar que o homem<br />

expresse a si mesmo, isto é, o seu modo de ser.<br />

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