94 Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo por trocas. Não há mais como imaginar um campo disciplinar do saber e do conhecimento. O centro do saber e do conhecimento está em toda parte e com todos. Já é mais do que sabido que a construção científi ca não é puramente empírica e que a própria construção do saber e do conhecimento é axiomática, pois não há uma relação de inferência igual à outra no mundo, mesmo que seja observada sob conceito formal idêntico. As proposições colocadas nos eixos transversais das atividades podem ser visíveis em qualquer ação cotidiana do indivíduo; por isso, uma vez refl etida na escola é possível que seja levada para a família, para a comunidade local e, com muita esperança e fé, chegue a mudar o pensamento futuro. Impossível pensar a escola, a vida e o futuro do planeta sem considerar questões postas nos princípios e compromissos da Carta da Terra, já tão debatidos neste livro e ampliados nas escolas com as crianças por meio das atividades “inter-trans-pluri-disciplinares” que trabalharam temas urgentes como ética, diversidade, multiculturalismo, intraculturalidade, transculturalidade, respeito às diferenças e às minorias, troca de saberes, resgate histórico, tradições, cultura popular, participação comunitária, cooperação, trabalho em rede, coletividade, cidadania, conscientização ambiental, economia solidária, sustentabilidade, preservação do patrimônio comum e do trabalho alheio, alteridade, identidade, saúde, gênero, desenvolvimento humano...e, se não esquecemos algum, com a vida. Para terminar esta primeira parte, fi ca uma mensagem de Heidegger (1973, apud BUZZI, 2001, p. 197) sobre ensinar: É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender. Mas raramente se pensa nisso. Por que ensinar é mais difícil que aprender? Não porque o mestre deva possuir um maior acervo de conhecimentos e os ter sempre à disposição. Ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar quer dizer deixar aprender. Aquele que verdadeiramente ensina não faz aprender nenhuma outra coisa que não seja o aprender. É por isso que o seu fazer causa muitas vezes a impressão que junto dele nada se aprende. Isso acontece porque inconsideradamente entendemos por aprender a só aquisição de conhecimentos utilizáveis. O mestre que ensina ultrapassa os alunos que aprendem somente nisto: que ele deve aprender ainda muito mais do que eles, porque deve aprender a deixar aprender. O mestre deve poder ser mais ensinável [sic] que os alunos. O mestre é muito menos seguro do seu ofício que os alunos do seu. Por isso, no relacionamento do mestre que ensina e dos alunos que aprendem, quando o relacionamento for verdadeiro, jamais entram em jogo a autoridade de quem sabe muito nem a infl uência autoritária do representante magisterial.
Parte 4 – Caderno de Atividades Por causa disso é ainda uma grandeza ser mestre – que é bem outra coisa que ser professor célebre. Se hoje – onde tudo é medido sobre o que é baixo e conforme ao que é baixo, por exemplo, sobre o lucro – ninguém mais deseja ser mestre, isso é devido sem dúvida ao que esta grande coisa implica e a grandeza de si própria. Kleber Maia Marinho é educador, coordenador pedagógico, autor de livros didáticos para o ensino médio, tradutor-intérprete, psicólogo e mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São <strong>Paulo</strong> – PUC/SP. 95