Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
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Parte 4 – Caderno de Atividades<br />
deixando o Homo ludens à míngua. Partindo do Renascimento, passa-se pela Revolução Industrial e,<br />
enfi m, chega-se até a Revolução Francesa para defi nitivamente saudar a razão com luzes, êxtase e<br />
vibração. A partir de então, após esse longo caminho, o mundo não seria mais o mesmo. A construção<br />
epistemológica não teria outra chance, a não ser seguir a mesma trilha empirista, que nega a fé dos<br />
tempos teocêntricos com outra fé tão equivalente quanto aquela, cujo Deus trocava apenas seu<br />
nome para Razão, a qual, desta vez, aplicava toda Sua força à ciência monolítica.<br />
Sobre esse ponto, faz-se interessante notar que a psique age por função compensatória, ou seja,<br />
busca o equilíbrio (homeostase) por meio de um princípio autônomo de auto-regulação (JUNG,<br />
1984, 1991, 2000). Portanto, o fenômeno de fusão com o inconsciente que existia originalmente<br />
entre ser humano e mundo, verifi cado também entre indivíduo e grupo (NEUMANN, 1995),<br />
dirigiu-se ao seu oposto, que signifi ca a saída do ego de um núcleo, digamos, grupal, coletivo e<br />
inconsciente rumo ao nascimento da consciência, à conquista da individualidade. Assim, o ser<br />
humano que antes era parte integrante da psique coletiva do seu grupo, enveredou pelo caminho<br />
da unicidade constitutiva do indivíduo, que pode ser compreendida como uma busca psíquica<br />
compensatória natural. A questão crucial é o grau da medida, visto que não é possível residir em<br />
apenas uma das polaridades, pelo menos, sem que haja sérios agravos e danos.<br />
Erro foi, nesse percurso, acreditar que o pensamento pré-logico constituía incapacidade<br />
de pensar logicamente. Contrário ao que a corrente racional tentou promover por ignorância<br />
ou preconceito, o ser primitivo − assim como, por exemplo, o índio − sempre foi capaz de tal<br />
atributo, mas, obviamente, inserido em uma cosmovisão orientada por uma logicidade diferente<br />
do ser humano secularizado, pois a orientação, antes imbuída pelo inconsciente, guiava-se por<br />
funções psicológicas esquecidas como o sentimento, a intuição, a sensação, e não meramente<br />
regida pela única e exclusiva lógica da consciência e do pensamento que sobrepuja qualquer<br />
outra forma de interação com o mundo (NEUMANN, 1995).<br />
Desse modo, o ser humano foi fragmentado e se tornou um ser monolítico, surdo e insensível<br />
aos seus próprios recursos humanos, que continua a insistir em agir como se fosse possível<br />
compartimentar sentimento, sensação, intuição e pensamento e, ainda, como se não bastasse,<br />
consegue outra subdivisão de si em corpo e mente.<br />
A visão compartimentada, cientifi cista, linear, cartesiana, estruturalista, piagetiana,<br />
vigostkiana, entre inúmeras modalidades construtivistas arraigadas nos discursos de métodos,<br />
louvados especialmente no século XVII, conseguiu fundar o ser humano disciplinar, socialmente<br />
enquadrado e regrado, que para dizer o mínimo, tornou-se monocular, senão defi ciente visual<br />
(D’AMBROSIO, 2001).<br />
As fi chas foram apostadas no modelo binômico taylorista/fordista cuja estrutura de trabalho<br />
valorou o potencial humano como um produto fi nal da razão encontrada entre a relação:<br />
efi ciência e efi cácia, que, mais uma vez, fez-nos cindir, mesurando o humano em tempo<br />
produtivo e agente de ação técnico-linear; era o nascedouro do especialista.<br />
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