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Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire

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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />

a superfície curva do planeta” 24 . Taylor analisa essa estrutura auto-transformadora da língua, que<br />

faz brotar de si mesma novas formas de linguagem, com o propósito de desenvolver uma Política<br />

do Reconhecimento, em que as diferentes formas de expressão humana possam ser compreendidas<br />

em sua reivindicações sócio-político-culturais. A teoria herderiana da linguagem possibilita abrir<br />

os horizontes teóricos no que se refere à origem das expressões humanas como manifestação<br />

signifi cativa das suas identidades. Eis o motivo de o educador, ao estar desenvolvendo as suas<br />

práticas pedagógicas, considerar lingüisticamente às manifestações signifi cativas das identidades<br />

de seus alunos. É a partir das expressões dos alunos que o educador pode ajudá-los em relação à<br />

justeza daquilo que eles querem expressar para terceiros no espaço da convivência.<br />

É a linguagem que constitui as articulações emocionais e é por isso que as ações realizadas<br />

pelo aluno por meio da sua auto-referência emocional se apresentam como boas ou más. O Bem<br />

e o Mal estão na esfera da linguagem, daí ela ser a base sobre a qual as nossas atitudes se mostram<br />

imbuídas de signifi cações. Interpretarmo-nos signifi ca justamente avaliar as nossas articulações<br />

emocionais no plano da linguagem. A linguagem e a emoção estão entrelaçadas de modo que<br />

não é possível se referir a uma sem considerar a outra. Além disto, a linguagem possibilita<br />

a própria forma das nossas emoções. Não é à toa que um novo vocabulário pode modifi car<br />

a forma anterior de articulação das nossas emoções 25 . O que tinha um determinado sentido<br />

emocionalmente ganha um outro formato no processo temporal interpretativo lingüístico 26 .<br />

Assim, o que era considerado anteriormente vergonhoso para uma pessoa passa não ter mais<br />

sentido ou ganha uma outra reformulação signifi cativa.<br />

A mudança do vocabulário signifi ca tanto o aprofundamento como a transformação da nossa<br />

interioridade emocional ou eu-emocional. A interpretação do eu-emocional passa por constantes<br />

trans-avaliações do vocabulário que, a cada mudança, reestrutura o modo de sentir e de vida<br />

do indivíduo, principalmente quando esse está no processo de ensino/aprendizagem. Os novos<br />

vocabulários são incorporados às referencias do eu-emocional do indivíduo, que modifi cam<br />

toda a maneira de o eu se situar tanto emocionalmente como cognitivamente. A linguagem, ao<br />

concretizar-se por meio das diversas formas de vocabulário, articula discernimentos (insights)<br />

ou os torna possíveis no plano emocional-cognitivo do indivíduo. Deste modo:<br />

Dizer que a linguagem é constituída pela emoção é dizer que experimentar uma<br />

emoção implica essencialmente em verifi car se certas descrições ajustam-se; ou que<br />

uma dada emoção implica algum (grau de) discernimento27 .<br />

Os discernimentos (insights) que ocorrem em nossa articulação emocional signifi cativa tornam<br />

possível a compreensão dos sentimentos no que se refere às suas avaliações. Neste aspecto,<br />

as avaliações são a própria refl exão interpretativa do eu. Ocupando-se daquilo que o sujeito<br />

24 Idem, 150.<br />

25 Podemos nos referir ao processo psicanalítico que possibilita ao analisado rever as signifi cações das suas articulações emocionais<br />

criando, assim, condições para transformá-las.<br />

26 Taylor dá um exemplo sociocultural destas modifi cações com a expressão – black is beautiful. Self-interpreting animals, 69.<br />

27 Charles Taylor. Self-interpreting animals, 71.

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