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Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire

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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />

Foi bem mais tarde, no século XVII, que Bernardino Ramazini, na Itália, focalizou a doença<br />

e a saúde ocupacional. Um texto de 1844, editado em Paris 144 anos depois do De Morbis<br />

Artifi cum Diatriba (Doenças do Trabalho), intitulado “Du Climat et des Maladies du Brésil” 2 ,<br />

descreve moléstias de índios, de negros e de mineiros, entre outras. A doença ocupacional,<br />

entre outras mazelas causadas pelo descaso com que se tratam as pessoas e o ambiente, ainda<br />

é um problema sério de saúde pública no Brasil de hoje.<br />

O especialista em História Natural e professor de Biologia, Dr. Manuel Pereira de Godoi, de<br />

Pirassununga, já estudava o Rio Mogi-Guaçú e o corimba, nos anos 50. Recolhendo diligente e<br />

atentamente amostras de água contaminada pela lixívia lançada pelas indústrias e realizando<br />

experimentos para avaliar as conseqüências na população de corimbas e em outras espécies de<br />

peixes, tornou-se conhecido no mundo todo como importante ictiologista. Na cidade onde morava<br />

era reconhecido por seus alunos e pessoas de bem como uma sumidade ambiental engajada,<br />

ainda que esta expressão inexistisse à época. Por parte da parcela reacionária da população, era<br />

taxado de “comunista”, acusação grave e muito perigosa naqueles anos de chumbo.<br />

Muitos outros pesquisadores, professores e cidadãos que se indignaram com a destruição e a<br />

pilhagem de nosso patrimônio comum, nossos recursos naturais, nestes anos de industrialização<br />

desavisada, fi zeram o que foi possível para denunciar problemas e encontrar respostas. Mas,<br />

a exemplo da garota surda em Húmulus, peça de Bertold Brecht, a sociedade demora muito a<br />

ouvir. Pode até escutar, mas a compreensão é por vezes tardia.<br />

A grave crise ambiental e seus desdobramentos que ora enfrentamos está sendo causada, em<br />

sua maior parte, pela ação antrópica. O Homo sapiens medrou e proliferou. Os mais de 6 bilhões<br />

e 500 milhões de representantes de nossa espécie presentes hoje na biosfera, junto aos seus<br />

quase 800 milhões de veículos, aos mais de 90 milhões de barris de petróleo queimados por dia<br />

e outros dispositivos e atividade destruidoras, estão impondo às cerca de 30 milhões de outras<br />

espécies, que conosco formam a “teia da vida” na biosfera, uma taxa de desaparecimento 100<br />

vezes superior ao que poderia ser chamado de “taxa natural”.<br />

Para onde estamos indo?<br />

Desmatamento e exploração mineral desmedidos, agricultura que empobrece e destrói matas<br />

e solos, exploração à extinção completa de espécies de valor comercial, introdução diuturna de<br />

grandes quantidades de antigas e de novas espécies químicas sintetizadas na ecosfera, além de<br />

outras ações predatórias compõem um quadro óbvio de destruição crescente e sistemática. Em<br />

nosso país esta destruição se faz mais cruel, dadas as condições desiguais que prevalecem ao<br />

longo dos séculos em uma economia que parece perseguir um ciclo de extração após outro. Até<br />

iniciativas que apresentam uma lógica ambiental e politicamente correta, como por exemplo<br />

o biodiesel e outras culturas focadas no seqüestro de carbono, tem alta probabilidade de criar<br />

miséria e destruição ambiental.<br />

2 Ou “Do Clima e das Doenças do Brasil”. O texto encontra-se na Biblioteca do Museu da Faculdade de Medicina de São <strong>Paulo</strong>.

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