Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />
HISTÓRIA ORAL – UMA ESTRATÉGIA A SER UTILIZADA NO DESENVOLVIMENTO DE<br />
PROJETOS EDUCACIONAIS<br />
Meire Terezinha Muller<br />
Até os anos fi nais do século XIX, o estudo da História tinha um enfoque eminentemente político,<br />
sendo considerados “históricos” apenas os documentos concretos – escritos e imagéticos 4 . Os<br />
historiadores pertenciam às elites, às classes que governavam e que voltavam, evidentemente,<br />
seu interesse para o registro relativo às lutas pelo poder. Não mereciam atenção os problemas<br />
e a vida das pessoas comuns, dos trabalhadores, das mulheres, a não ser em tempos de crise ou<br />
quando algum evento especialmente inoportuno os envolvesse.<br />
Mesmo que alguém quisesse escrever sobre esses anônimos das classes populares, teria<br />
encontrado muita difi culdade, pois os documentos não eram preservados ou, caso fossem,<br />
tinham acesso restrito, perdidos ou guardados em gavetas e arquivos mal conservados, quase<br />
sempre sem catalogação. Os registros de nascimento, casamento, históricos escolares, jornais,<br />
atas de reuniões, diários de bordo, de viagens e conquistas, dentre outros, eram produzidos<br />
pelos indivíduos letrados e representavam exclusivamente as classes dominantes. Quanto mais<br />
um documento fosse pessoal, menor o interesse nele despertado, menor a possibilidade de que<br />
continuasse a existir. Por outro lado, os papéis tidos como “ofi ciais” permaneceram, fazendo<br />
com que, nas palavras de Thompson (1992), a estrutura de poder funcionasse “como um grande<br />
gravador, que modelava o passado à sua própria imagem”.<br />
Nesse universo, seria impensável o aproveitamento, como fonte de saber acadêmico, de<br />
dados colhidos através da oralidade, de entrevistas e de conversas com pessoas comuns sobre<br />
sua experiência de vida. As poucas biografi as até então existentes, na maioria sobre a vida<br />
dos reis ou dos santos, interessavam aos leitores apenas do ponto de vista literário e fi ccional,<br />
sem lhes ser atribuído valor histórico algum. Mas como separar ou ignorar a ligação, os elos<br />
indissolúveis entre memória e história?<br />
Para alguns estudiosos, a memória não pode ser assim desprezada, já que a oralidade antecede<br />
a escrita, sendo uma forma de preservação da história muito mais antiga que esta. Desde tempos<br />
imemoriais, e ainda em nossos dias, existem povos sem um sistema de linguagem escrita, porém<br />
com uma grande riqueza cultural, transmitida oralmente de geração a geração, através do<br />
tempo, constituindo o que há de mais autêntico dentro daquele determinado grupo social: sua<br />
4 Entendendo-se, aí, as fotografi as, fi lmes, iconografi a, cartografi a e outras formas de preservação física da memória e de fatos.