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Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire

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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />

cuidando para que as informações científi cas não se interponham na interação de aprendizagem<br />

e mascarem ou inibam os processos de natureza mais delicada. O corpo é considerado um<br />

elemento muito importante para a aprendizagem. Isso pode parecer óbvio uma vez que a sede<br />

de nosso cérebro está no corpo e é nele que nossas memórias fi cam armazenadas.<br />

Apesar dessa evidência, nosso cérebro é tão complexo que nos permite abstrair a realidade<br />

de forma que podemos percorrer enormes distâncias no tempo e no espaço sem nos deslocarmos<br />

fi sicamente. Podemos aprender na abstração, sem perceber a participação ativa e decisiva do<br />

corpo. “Usamos o cérebro para tornar nosso próprio corpo um objeto. Originalmente, esse<br />

processo de criação de imagens destinava-se a organizar a experiência. Agora, ele tomou o<br />

lugar da experiência corporal” (KELEMAN, 1999). Ou seja, temos tendência a não perceber a<br />

base física (das percepções, dos sentidos, das emoções que formam registros corporais) das<br />

experiências que temos e a viver baseados nas imagens que fazemos das coisas e não nas<br />

relações diretas que temos com elas.<br />

Nossa educação tradicional é baseada nessa possibilidade que temos de conhecer sem vivenciar<br />

as informações e sem inseri-las num contexto, ou seja, sem se comprometer com o conhecimento<br />

e sem transformá-lo num saber. Podemos – e é o que mais fazemos - apreender conhecimentos<br />

revelados pela experiência de outras pessoas, mesmo que esse conhecimento não nos faça sentido.<br />

Assim, criamos um sistema educacional formal muito complexo e extenso em conteúdo. Na escola,<br />

alguns conhecimentos são verifi cados em aulas de laboratório; em outras situações são realizados<br />

estudos do meio, mas essas estratégias de ensino consideram o sujeito que aprende separado<br />

daquilo que é aprendido, que o conhecimento pode existir em separado daquele que aprende. Essa<br />

é a diferença fundamental entre o ensino convencional e o vivencial.<br />

No aprendizado vivencial, é o corpo inteiro que aprende, não só o cérebro, e ele aprende porque<br />

interage com o que deve ser aprendido. As vivências permitem que a pessoa se aproxime de si<br />

mesma, fazendo com que o aprendizado se torne autêntico, pois é seu próprio corpo que vai produzir<br />

o conhecimento. Para realizar as vivências é preciso estar presente, sensível aos sinais de seu corpo,<br />

perceptivo ao que está acontecendo nos ambientes externo e interno, dando menos espaço às<br />

idéias e aos pensamentos e emoções difusos e esparsos que normalmente costumamos ter. Estando<br />

plenos no aqui e agora, saímos do mundo exclusivo das idéias e observamos as diferentes formas que<br />

um estímulo repercute em nosso corpo. Via de regra, essa repercussão no corpo é bem diferente<br />

da imagem que faríamos se estivéssemos imaginando apenas aquela situação. Como exemplo, a<br />

sensação térmica, tátil, olfativa e sonora ao realizar um exercício no meio de uma fl oresta tropical<br />

é fundamentalmente diferente da sensação que advém da imaginação da mesma situação. Os<br />

registros corporais são diferentes. O aprendizado sobre o fl uxo de energia e de matéria, sobre as<br />

relações ecossistêmicas, sobre a presença humana na natureza, sobre os contextos planetário e<br />

cósmico será diferente se tudo isso for “ensinado” na sala de aula.<br />

Nesse caminho, depois do corpo vivo, a percepção da paisagem. Ao descortinar as diferentes<br />

possibilidades de interpretação da paisagem, o educador pode começar a sentir e visualizar<br />

as diversas camadas de história, as diversas infl uências sócio-econômicas contemporâneas e

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