Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />
REAPROXIMAR PELA ESPIRITUALIDADE 17<br />
Denise Lopes de Souza<br />
A leitura do pensamento de Heidegger exposto no texto anterior permite interpretá-lo como<br />
uma representação da complexidade e da riqueza do que é ensinar. Felizmente já sabemos que<br />
a educação ultrapassa os limites técnicos e está sedenta por reaproximar-se não só do planeta,<br />
mas também do próprio fato de ser humano. A vida escolar não pode mais ser considerada<br />
como somente o ensino de disciplinas como matemática, português ou ciências, mas sim como<br />
a refl exão sobre o que somos na totalidade e do que precisamos para viver em harmonia.<br />
Ao pesquisar o sentido etimológico da palavra “educar”, encontra-se a origem latina “educare”<br />
que signifi ca literalmente “conduzir para fora” (VALENTE, 1993), ou seja, desenvolver algo<br />
já latente. Assim, a educação deve assumir como objetivo a promoção do desenvolvimento<br />
prático das habilidades inatas no ser humano entre as quais está, naturalmente, a interação<br />
dos indivíduos com o meio em que vivem. A convivência comunitária das pessoas pode ser<br />
representada por uma complexa rede de inter-relações que abrange diversos aspectos: culturais,<br />
individuais, ambientais, sociais, étnicos, religiosos, psicológicos e espirituais. Em outras<br />
palavras, a educação deve tomar para si a preocupação em “conduzir para fora” aptidões inatas<br />
nos indivíduos que os permitam interagir harmoniosamente com os aspectos acima citados.<br />
No entanto, o que temos visto em nosso processo educacional é tanto a fragmentação disciplinar<br />
que impossibilita o entendimento das coisas em sua complexidade e interação com o meio, quanto<br />
o foco da educação voltado para o pragmatismo. Conforme já abordado, a Revolução Industrial<br />
exerceu marcante infl uência na construção do pensamento moderno e, conseqüentemente, no<br />
processo educacional, o qual se desenvolveu direcionado exclusivamente para o mercado. Somos<br />
herdeiros de uma colonização que não passou de uma empreitada comercial, o que resultou<br />
na comercialização até de seres humanos. Tendo em vista este ambiente colonizador, “não<br />
teria sido possível um tipo de relações humanas que pudesse criar disposições mentais fl exíveis<br />
capazes de levar o homem a formas de solidariedade que não fossem as exclusivamente privadas”<br />
(FREIRE, 1967, p. 73). Conseqüentemente, tampouco teria sido possível o desenvolvimento de<br />
um sistema educacional que permitisse refl exões sobre a complexidade de “ser” humano. É<br />
possível que muito desse legado de fragmentação advenha do afastamento do humano daquele<br />
estado indiferenciado com o planeta, o qual concebia a vida em sua totalidade, tendo o respeito<br />
ao ambiente como um dado regente natural de seu comportamento, conforme já comentado.<br />
Como herança de um processo pedagógico desfocado, que menospreza o ambiente e o humano<br />
como ser vivo nele integralmente inserido, enfrentamos atualmente diversos problemas, tais como<br />
injustiça social, degradação da fauna e da fl ora, fome, violência, falta de solidariedade e de ética.<br />
17 Esta é a segunda parte do texto, escrita pela segunda autora.