Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />
Marc Bloch e Lucien Febvre revolucionaram o conceito sobre os documentos históricos, no<br />
fi nal do século XIX, ao afi rmar que estes, tidos como “verdadeiros” e “reais” foram produzidos<br />
a partir da subjetividade e parcialidade de seu gerador 7 . O que eles defendiam é que esses<br />
documentos “relatam” a verdade, em especial, de um indivíduo, refl etindo seu lugar na<br />
sociedade à qual pertence e, por isso, devem ser lidos sob nova ótica, percebendo os objetivos<br />
do gerador, sua subjetividade, o implícito. A historiografi a passou, então, a valorizar não apenas<br />
documentos escritos, mas toda manifestação humana, incluindo, aí, a memória, que havia<br />
carregado por anos o rótulo de forma pouco segura e confi ável de preservação da história<br />
e dos conhecimentos adquiridos. Sob este novo olhar, à falta de documentos escritos sobre<br />
determinados assuntos, há como criá-los, buscando relatos da experiência pessoal, da vida de<br />
pessoas comuns, utilizando-se daquilo que se convencionou chamar de “história oral”.<br />
A partir da década de 60, surgiram muitas instituições e pesquisadores preocupados em<br />
resgatar a importância dos relatos orais, revalorizando a memória como forma legítima de se<br />
entender a história, dando voz e vez aos esquecidos (idosos, iletrados e moradores da periferia<br />
das grandes cidades, por exemplo). Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz (1998).<br />
História Oral é termo amplo que recobre uma quantidade de relatos a respeito de<br />
fatos não registrados por outro tipo de documentação, ou cuja documentação se quer<br />
completar. Colhida por meio de entrevistas de variada forma, ela registra a experiência<br />
de um só indivíduo ou de diversos indivíduos de uma mesma coletividade. Neste<br />
último caso, busca-se uma convergência de relatos sobre o mesmo acontecimento<br />
ou sobre um período de tempo. A história oral pode captar a experiência efetiva<br />
dos narradores, mas também recolhe destes tradições e mitos, narrativas de fi cção,<br />
crenças existentes no grupo, assim como relatos que contadores de história, poetas,<br />
cantadores inventam num momento dado. Na verdade tudo quanto se narra oralmente<br />
é história, seja história de alguém, seja história de um grupo, seja história real, seja<br />
ela mítica (QUEIROZ, 1998).<br />
Portanto, atividades com história oral, quando desenvolvidas em escolas, são extremamente<br />
interessantes e, se bem preparadas e com objetivos vem defi nidos, podem surpreender pelos<br />
resultados 8 .<br />
A técnica, relativamente simples, requer o levantamento dos critérios para escolha dos<br />
entrevistados. Normalmente orientam-se as crianças para optar por pessoas que possam contribuir<br />
com o trabalho que se pretende realizar, ou por terem participado de eventos considerados<br />
relevantes ao processo ou, mesmo, pela idade (acima de uma faixa etária estabelecida pelo<br />
grupo). Preferencialmente é interessante que disponham de um gravador, através do qual<br />
7 Marc Bloch e Lucien Febvre fundaram, em 1929, a revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, que deu origem ao que se<br />
convencionou chamar de Escola dos Annales.<br />
8 THOMPSON, Paul dedica todo seu livro A Voz do Passado: História Oral a analisar e sugerir atividades com História Oral para<br />
crianças de Ensino Fundamental