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Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire

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Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />

Ao trabalharmos com a linguagem expressivista deixamos de querer controlar as coisas,<br />

os homens e o ambiente em que estamos, pois o que interessa é permitir que as pessoas e os<br />

grupos com os quais trabalhamos educacionalmente compreendam e expressem o que elas são<br />

em suas identidades culturais. É na e pela linguagem, sem o seu caráter instrumental, que o<br />

homem ganha a capacidade de expressar a si mesmo, isto é, a sua identidade como aquilo que<br />

lhe é mais próprio. A linguagem é o elemento estratégico para se compreender a construção<br />

das articulações signifi cativas que constituem a tomada de decisão de um agente humano<br />

diante das questões ético-políticas que ocorrem no espaço público. Deste modo, as atividades<br />

educacionais desenvolvidas no âmbito da interdisciplinaridade precisam estar ajustadas com a<br />

fi nalidade de formar cidadãos que aprendam a expressar os seus posicionamentos políticos a<br />

partir das suas identidades sócio-lingüístico-culturais.<br />

A questão do cuidado com a linguagem é de suma importância, pois ela está relacionada<br />

diretamente com o poder de expressão humana na esfera das ações no espaço público. A<br />

linguagem leva ao problema da ação. Esclarecer as determinações da linguagem torna-se crucial<br />

para se entender a ligação entre expressão e ação.<br />

As teorias cientifi cistas não se preocupam com o problema da linguagem no que se refere<br />

diretamente à expressão e à ação. A questão da linguagem não é posta por elas. Para Charles<br />

Taylor, ao não se explicitar o problema da linguagem, na verdade, não se está abrindo a<br />

discussão para a questão da natureza humana. Desenvolvendo uma antropologia fi losófi ca como<br />

introdução ao seu pensamento político, Taylor tenta esclarecer os fundamentos da natureza<br />

humana. Eis o motivo do seu interesse pela linguagem. Para ele, o homem, ao ser um animal<br />

expressivo, tem como determinação a linguagem. É na e pela linguagem que o homem pode<br />

expressar a sua presença no mundo, bem como dar sentido a este. Neste aspecto o pensamento<br />

de Taylor se aproxima do de fi lósofos como Ernst Cassirer, no sentido de que ambos têm a<br />

preocupação com as formas lógicas das diversas construções simbólicas elaboradas pelo homem.<br />

Especifi camente, Cassirer se volta para o problema do formato lógico-expressivo das diversas<br />

elaborações simbólicas feitas pelo homem por meio do seu desenvolvimento cultural (o mito, a<br />

religião, a arte, a ciência como formas simbólicas).<br />

Já Taylor analisa a expressividade da linguagem naquilo que o homem procura analisar a si<br />

mesmo como possibilidade de construir a sua identidade com o propósito de confi gurá-la no mundo.<br />

Para que ocorra essa confi guração da sua expressão, o homem precisa entrar na perspectiva<br />

lingüística. É com Herder que Taylor consegue apreender as condições essenciais da linguagem:<br />

Uma criatura opera na dimensão lingüística quando pode usar signos – e a eles responder<br />

– em termos de sua verdade, ou justeza descritiva, do poder de evocar algum estado<br />

de espírito, recriar uma cena, exprimir alguma emoção, veicular alguma nuança de<br />

sentimento ou ser de algum modo le mot juste. Ser uma criatura lingüística é ser sensível<br />

a questões irredutíveis de justeza18 .<br />

18 Charles Taylor. A Importância de Herder. In: Argumentos Filosófi cos. Tradução brasileira. Ed. Loyola, p. 98.

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