Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
Miolo Bioma _CS3.indd - Instituto Paulo Freire
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
116<br />
Histórias de Aprender-e-ensinar para mudar o mundo<br />
Ao trabalharmos com a linguagem expressivista deixamos de querer controlar as coisas,<br />
os homens e o ambiente em que estamos, pois o que interessa é permitir que as pessoas e os<br />
grupos com os quais trabalhamos educacionalmente compreendam e expressem o que elas são<br />
em suas identidades culturais. É na e pela linguagem, sem o seu caráter instrumental, que o<br />
homem ganha a capacidade de expressar a si mesmo, isto é, a sua identidade como aquilo que<br />
lhe é mais próprio. A linguagem é o elemento estratégico para se compreender a construção<br />
das articulações signifi cativas que constituem a tomada de decisão de um agente humano<br />
diante das questões ético-políticas que ocorrem no espaço público. Deste modo, as atividades<br />
educacionais desenvolvidas no âmbito da interdisciplinaridade precisam estar ajustadas com a<br />
fi nalidade de formar cidadãos que aprendam a expressar os seus posicionamentos políticos a<br />
partir das suas identidades sócio-lingüístico-culturais.<br />
A questão do cuidado com a linguagem é de suma importância, pois ela está relacionada<br />
diretamente com o poder de expressão humana na esfera das ações no espaço público. A<br />
linguagem leva ao problema da ação. Esclarecer as determinações da linguagem torna-se crucial<br />
para se entender a ligação entre expressão e ação.<br />
As teorias cientifi cistas não se preocupam com o problema da linguagem no que se refere<br />
diretamente à expressão e à ação. A questão da linguagem não é posta por elas. Para Charles<br />
Taylor, ao não se explicitar o problema da linguagem, na verdade, não se está abrindo a<br />
discussão para a questão da natureza humana. Desenvolvendo uma antropologia fi losófi ca como<br />
introdução ao seu pensamento político, Taylor tenta esclarecer os fundamentos da natureza<br />
humana. Eis o motivo do seu interesse pela linguagem. Para ele, o homem, ao ser um animal<br />
expressivo, tem como determinação a linguagem. É na e pela linguagem que o homem pode<br />
expressar a sua presença no mundo, bem como dar sentido a este. Neste aspecto o pensamento<br />
de Taylor se aproxima do de fi lósofos como Ernst Cassirer, no sentido de que ambos têm a<br />
preocupação com as formas lógicas das diversas construções simbólicas elaboradas pelo homem.<br />
Especifi camente, Cassirer se volta para o problema do formato lógico-expressivo das diversas<br />
elaborações simbólicas feitas pelo homem por meio do seu desenvolvimento cultural (o mito, a<br />
religião, a arte, a ciência como formas simbólicas).<br />
Já Taylor analisa a expressividade da linguagem naquilo que o homem procura analisar a si<br />
mesmo como possibilidade de construir a sua identidade com o propósito de confi gurá-la no mundo.<br />
Para que ocorra essa confi guração da sua expressão, o homem precisa entrar na perspectiva<br />
lingüística. É com Herder que Taylor consegue apreender as condições essenciais da linguagem:<br />
Uma criatura opera na dimensão lingüística quando pode usar signos – e a eles responder<br />
– em termos de sua verdade, ou justeza descritiva, do poder de evocar algum estado<br />
de espírito, recriar uma cena, exprimir alguma emoção, veicular alguma nuança de<br />
sentimento ou ser de algum modo le mot juste. Ser uma criatura lingüística é ser sensível<br />
a questões irredutíveis de justeza18 .<br />
18 Charles Taylor. A Importância de Herder. In: Argumentos Filosófi cos. Tradução brasileira. Ed. Loyola, p. 98.