relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
DO DOMICÍLIO 20.<br />
O macua tem tantas palhotas quantas mulheres 128 e ainda uma on<strong>de</strong><br />
ficam <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> tod<strong>os</strong>, enquanto pequen<strong>os</strong>, e uma que é o celeiro ou arrecadação<br />
d<strong>os</strong> mantiment<strong>os</strong> para todo o a<strong>no</strong>. Sobre a forma <strong>de</strong> construírem<br />
as palhotas, ficou dito <strong>no</strong> capítulo <strong>sobre</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes (figura 4). N<strong>os</strong> síti<strong>os</strong><br />
on<strong>de</strong> há muit<strong>os</strong> leões, c<strong>os</strong>tumam construir palhotas <strong>sobre</strong> as árvores,<br />
a que chamam trado [etarato]. Para as construir, escolhem uma árvore<br />
forte e que tenha ram<strong>os</strong> que, pela sua p<strong>os</strong>ição, permitam entre eles construir<br />
um estrado formado <strong>de</strong> paus e bambus. Sobre este estrado fazem a<br />
palhota, on<strong>de</strong> per<strong>no</strong>itam para se salvarem d<strong>os</strong> ataques da fera, <strong>sobre</strong>tudo<br />
do leão. O dito estrado, finda a construção da palhota, é coberto a argamassa<br />
<strong>de</strong> argila, para po<strong>de</strong>rem ter durante a <strong>no</strong>ite a tradicional fogueira.<br />
De dia vivem em baixo nas suas palhotas, ao pôr do Sol, vão para cima,<br />
por meio <strong>de</strong> uma escada feita <strong>de</strong> bambu. No entanto, muit<strong>os</strong> indígenas, ou<br />
até a maioria, cercam toda a residência com um cercado <strong>de</strong> paus e bambu,<br />
a que chamam càgô [kàko]. Não po<strong>de</strong> mudar <strong>de</strong> residência sem licença do<br />
régulo, formalida<strong>de</strong> 129 hoje cumprida <strong>de</strong>vido à insistência da autorida<strong>de</strong>.<br />
Acontece um homem ter mu lheres em duas povoações, e então tem palhotas<br />
e machambas nas duas; mas as obrigações e direit<strong>os</strong> são <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
As palhotas, como ficou dito, são em geral redondas, muito pequenas<br />
e como c<strong>os</strong>tumam fazer fogueira <strong>de</strong>ntro, já por causa d<strong>os</strong> m<strong>os</strong>quit<strong>os</strong><br />
e já por causa do frio, dormem num ambiente bastante insalubre.<br />
Dentro das palhotas, às vezes ainda com compartiment<strong>os</strong>, c<strong>os</strong>tumam<br />
ter o seguinte: a cama, ôlile [olili], que se reduz a quatro forquilhas<br />
128 Entenda-se aqui palhota <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> étoko (= lar) e não empá (= construção). Cada mulher<br />
constitue portanto um «anenetoko».<br />
129 Não se trata <strong>de</strong> mera formalida<strong>de</strong>, a vinculação ao régulo é um vínculo linhageiro e <strong>de</strong> segurança<br />
comunitária com matizes c<strong>os</strong>mogónicas claro que a administração colonial se aproveitou <strong>de</strong>ste facto<br />
para controlar e até impedir a mudança <strong>de</strong> residência.<br />
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