relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Francisco A. Lobo Pimentel<br />
<strong>de</strong>bela a inflamação d<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> que em certa época (fortes vent<strong>os</strong>) ataca<br />
<strong>os</strong> indígenas da região e é contagi<strong>os</strong>a em extremo. O inglês ficou muito<br />
admirado não só da cura, que ig<strong>no</strong>rava, como da minha paciência. Mais<br />
tar<strong>de</strong>, apareceram dois alemães; um <strong>de</strong> <strong>no</strong>me Muller, que, disse, andava<br />
coleccionando passarinh<strong>os</strong>, e outro, um vis con<strong>de</strong> que foi capitão d<strong>os</strong><br />
hulan<strong>os</strong> e, dizia ele, entrou na Bélgica, quando da invasão alemã. Estes<br />
homens, chegad<strong>os</strong> ao P<strong>os</strong>to, a primeira coisa que me disseram é que eu<br />
era o pai d<strong>os</strong> pret<strong>os</strong> e passad<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> perguntaram -me por que é<br />
que o Gover<strong>no</strong> não acabava com a Companhia do Niassa, <strong>de</strong>vido a coisas<br />
espant<strong>os</strong>as que <strong>os</strong> pret<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntes na margem aquém do rio Lurio lhe<br />
contaram e queixas por eles feitas. Realmente tinham vindo do Niassa<br />
para Muite, para cima <strong>de</strong> duas mil famílias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tomei p<strong>os</strong>se da<br />
chefia e esses indígenas que interroguei um por um fizeram <strong>de</strong>clarações<br />
espant<strong>os</strong>as que passei para uma exp<strong>os</strong>ição que enviei para a se<strong>de</strong><br />
da Circuns crição em Muecate. Aqueles alemães interrogaram ou não <strong>os</strong><br />
indígenas? Estou certo que sim pois <strong>os</strong> indígenas espontaneamente não<br />
se lhe queixavam. Dali seguiram para Imala e transitaram pela povoação<br />
do régulo Inxi quiche [Inxikixe] e como <strong>os</strong> trazia vigiad<strong>os</strong>, soube que eles<br />
perguntaram a<strong>os</strong> pret<strong>os</strong> para quem se <strong>de</strong>stinavam tantas ipahas 4 que estavam<br />
fazendo e <strong>os</strong> in dígenas disseram que eram para a se<strong>de</strong> em Muecate;<br />
perguntaram se lhe as pagavam; disseram que sim; era para pagarem<br />
o imp<strong>os</strong>to <strong>de</strong> palhota. Dali seguiram com carregadores do regulado Inchiquiche<br />
para Nacarôa; perguntariam mais alguma coisa a<strong>os</strong> pret<strong>os</strong> da<br />
área <strong>de</strong> Imala e portanto da se<strong>de</strong>? Estou certo que sim, tal como perguntaram<br />
a<strong>os</strong> <strong>de</strong> Muite; e as resp<strong>os</strong>tas daqueles seriam iguais às d<strong>os</strong> indígenas<br />
do Muite? Ig<strong>no</strong>ro. Mas estes estrangeir<strong>os</strong> que vêm aqui sob vári<strong>os</strong><br />
títul<strong>os</strong>, embora o fim seja um, não acusam A ou B e fazem as acusações<br />
à n<strong>os</strong>sa administração colonial, incluindo tudo sem distinção e é assim<br />
que por causa <strong>de</strong> dois ou três sofrem mais e até a própria Nação.<br />
O gran<strong>de</strong> colonial, general, Ex. mo Sr. Alfredo Augusto Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />
sendo entrevistado pelo jornal Diário <strong>de</strong> Notícias, <strong>sobre</strong> o assunto,<br />
disse: «Por banda d<strong>os</strong> estranh<strong>os</strong> não tem<strong>os</strong> que recear qualquer ataque,<br />
garanto-lhe eu em meu <strong>no</strong>me, se ele para alguma coisa <strong>no</strong> caso serve. O<br />
4 A ortografia correcta é ipaha, que é o plural <strong>de</strong> epaha. Esta palavra <strong>de</strong>signa a alcofa feita da folha<br />
da palmeira brava chamada mikhutta e/ou mikwarakwa.<br />
E-BOOK CEAUP 2008