relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
guei e o sentenciado aqui continuou, rindo-se, como ainda hoje, disto<br />
tudo, e, vendo que mal algum lhe aconteceu, começou então a abusar,<br />
como vam<strong>os</strong> ver.<br />
Como em Dezembro faltava muita gente para pagar o imp<strong>os</strong>to <strong>de</strong> palhota,<br />
escrevi, tanto ao sentenciado como ao empregado do Sr. Oliveira,<br />
dizendo que procurassem a forma <strong>de</strong> <strong>os</strong> indígenas pagarem o imp<strong>os</strong>to.<br />
Passa d<strong>os</strong> dias, man<strong>de</strong>i pren<strong>de</strong>r <strong>os</strong> dit<strong>os</strong> indígenas e recebo uma carta<br />
do senhor Con<strong>de</strong> em que me dizia que «o Ramalho» se queixava que eu<br />
prendi toda a gente ao serviço da proprieda<strong>de</strong>; eu, indignado, man<strong>de</strong>i<br />
um peque<strong>no</strong> bilhete ao tal Ramalho perguntando-lhe quant<strong>os</strong> e quais <strong>os</strong><br />
homens pres<strong>os</strong> e o sentenciado mandou-me dizer num bilhete que não<br />
estava homem algum preso; este bilhete acompanhou uma exp<strong>os</strong>ição<br />
motivada por uma carta ou mais «espécie <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e imp<strong>os</strong>ição» do tenente<br />
senhor Con<strong>de</strong> para a Adminis tração, em que dizia: «… rogo a V.<br />
Ex. a a fineza <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar telegraficamente ao chefe do P<strong>os</strong>to <strong>de</strong> Chinga<br />
para mandar apresentar o mais rapidamente p<strong>os</strong>sível todo o pessoal que<br />
está nestas condições…». Esta carta foi-me enviada com <strong>no</strong>ta e eu formulei<br />
outra exp<strong>os</strong>ição em que dizia: que na proprieda<strong>de</strong>, por acaso, não<br />
foi preso preto algum, o que provava o bilhete do tão falado sentenciado<br />
da confiança do tenente senhor Con<strong>de</strong>, dizia mais: «Os empregad<strong>os</strong><br />
d<strong>os</strong> agricultores Oliveira em M’Luli e Con<strong>de</strong> em Malapane ar maram em<br />
autorida<strong>de</strong>s nas áreas abrangidas pelas concessões d<strong>os</strong> patrões, e não<br />
consentem que a autorida<strong>de</strong> lá vá. Creio que <strong>os</strong> terren<strong>os</strong> estão aforad<strong>os</strong><br />
ou concedid<strong>os</strong>, mas não formam repúblicas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou companhias<br />
privilegiadas como <strong>de</strong> Moçambique e Niassa. O agricultor aforou o<br />
terre<strong>no</strong> e não <strong>os</strong> indígenas que lá resi<strong>de</strong>m, tornando a sua concessão em<br />
um privilégio, pondo e dispondo do indígena da forma que melhor lhes<br />
convém… etc.» Estes document<strong>os</strong> existem <strong>no</strong> arquivo da Administração.<br />
Mas qual o re sultado <strong>de</strong> tudo isto? Mais uma vez o sentenciado Ramalho<br />
se ficou a rir. Este sentenciado creio eu que julgou <strong>de</strong>p<strong>os</strong>itarem nele mais<br />
confiança que <strong>no</strong> próprio chefe do P<strong>os</strong>to e então começa <strong>de</strong>scaradamente<br />
a abusar e mais, particularmente, ameaçou o senhor Administrador da<br />
Circunscrição e é o que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma carta que recebi do senhor<br />
tenente Con<strong>de</strong>, muito ofendido tanto comigo como com o administrador,<br />
já falecido, mas era um homem sério, dig<strong>no</strong> e reconhecia a razão, o que<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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