relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
Mas tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m exercer fiscalização são da minha<br />
opinião? Não, p<strong>os</strong>so garantir; um há que se gaba que, na localida<strong>de</strong>, é ele<br />
o único que mais barato compra n<strong>os</strong> monhés; recebem «ságuates», etc., e<br />
assim per<strong>de</strong>m toda a acção moral para porem na or<strong>de</strong>m aqueles infames<br />
exploradores a bem do indígena, que tod<strong>os</strong> tem<strong>os</strong> obrigação <strong>de</strong> proteger,<br />
por ser ele com que n<strong>os</strong> enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> para tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> ram<strong>os</strong> <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>; e<br />
mal <strong>de</strong> nós em África, sem eles. Há realmente indivídu<strong>os</strong> dign<strong>os</strong> <strong>de</strong> todo<br />
o louvor. Conheci em Nacala, como comandante militar, o tenente Ex. mo<br />
Senhor Bessa que, vendo na mão <strong>de</strong> um soldado europeu um quitundo<br />
<strong>de</strong> arroz que o soldado comprou <strong>no</strong> monhé a $30 o litro, quando é certo<br />
que aquele senhor comprava a $20, foi acto contínuo à loja enten<strong>de</strong>r-se<br />
com o monhé que lhe disse que a ele vendia a $20 por ser comandante;<br />
pois acto contínuo aquele indivíduo pregou com o quitundo e o arroz nas<br />
ventas do monhé.<br />
O meu proce<strong>de</strong>r há-<strong>de</strong> ser sempre este, embora reconheça que actualmente<br />
a honra<strong>de</strong>z, serieda<strong>de</strong> e dignida<strong>de</strong> e até mesmo a ilustração não<br />
dão valor pessoal ao homem, porque a socieda<strong>de</strong> está <strong>de</strong>smoralizada;<br />
reconhece -o quem há 20 an<strong>os</strong> resi<strong>de</strong> em África e há 17 consecutiv<strong>os</strong> não<br />
vai à Me tró pole. Desembarquei em Lisboa, em 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1910,<br />
pois ao fim <strong>de</strong> 3 meses estava <strong>de</strong> volta por me e<strong>no</strong>jar o viver entre a socieda<strong>de</strong>;<br />
dá-se mais crédito a um ladrão que se apresente vestido à «papo<br />
seco», como lhe chamam agora, do que a um homem sério e honrado,<br />
embora mo<strong>de</strong>stamente vestido. Actualmente po<strong>de</strong>-se aplicar a <strong>no</strong>rma:<br />
«tudo tens, tudo vales, nada tens nada vales», é assim que se conhece o<br />
homem <strong>de</strong> hoje; exempl<strong>os</strong> há muit<strong>os</strong> e muitíssim<strong>os</strong>: o homem hoje, vem<br />
do «nada», pobre, sem instrução nem educação; repentinamente apresenta-se<br />
<strong>no</strong> luxo, bem vestido à «papo seco»; é tudo; ele ocupa carg<strong>os</strong> elevad<strong>os</strong>;<br />
ele é recebido na alta socieda<strong>de</strong>, mas não há um que pergunte, por<br />
curi<strong>os</strong>ida<strong>de</strong>, don<strong>de</strong> veio aquele luxo, visto que po<strong>de</strong>rá chover picaretas<br />
e pan<strong>os</strong> encharcad<strong>os</strong>, mas nunca dinheiro; quem nada tinha e hoje tem,<br />
dalgum lado lhe vem. A virtu<strong>de</strong> e o saber foram uma questão secundária.<br />
A importância <strong>no</strong> meio social vai para <strong>os</strong> que se apresentam bem vesti<br />
d<strong>os</strong>, meias <strong>de</strong> seda e tudo <strong>de</strong> seda, vivendo à larga na sua principesca<br />
vi venda; e ninguém se importa se todo aquele luxo foi ganho com honestida<strong>de</strong>,<br />
com honra e a produzir utilida<strong>de</strong>s para o público. A prevaricação<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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