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relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga

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Francisco A. Lobo Pimentel<br />

imper tinente que pouco faltou para, mesmo na secretaria, <strong>de</strong>satar à bofetada<br />

ao «marido».<br />

As crianças mamam até à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> andarem e então as mães começam<br />

a ministrar-lhes um caldo feito <strong>de</strong> milho fi<strong>no</strong> 20 «ver<strong>de</strong>», triturado <strong>no</strong><br />

pilão, èriaŭ [eryawe], ou <strong>de</strong> farinha, a que chamam mahása [mahasa] 21 .<br />

Como em todas as raças, crianças há que teimam em mamar, ultrapassada<br />

a ida<strong>de</strong> e então as mães aplicam malagueta pisada ou piripiri n<strong>os</strong><br />

bic<strong>os</strong> d<strong>os</strong> peit<strong>os</strong>; tinta da re sina da árvore m’bila [mpila], cuja seiva é<br />

encarnada. No entanto, enquanto mamam, as mães dão a<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> utéca<br />

[otheka], cerveja cafreal, e na época da colheita das machambas, ou seja,<br />

da abundância, dão-lhe também milho fi<strong>no</strong> ver<strong>de</strong>, em grão, e é assim<br />

que o estômago das crianças se dilata <strong>de</strong> forma fe<strong>no</strong>menal.<br />

Conhecem <strong>os</strong> velh<strong>os</strong> pelo cabelo branco e rugas na cara e <strong>no</strong> corpo,<br />

principalmente barriga; entre homens e mulheres, velh<strong>os</strong>, m<strong>os</strong>tram-se<br />

mais <strong>de</strong> crépitas as mulheres e compreen<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que é a mulher que<br />

tem mais activida<strong>de</strong>. No indígena, a <strong>de</strong>ntadura é, <strong>no</strong> geral, admirável e,<br />

facto curi<strong>os</strong>o, o preto trinca <strong>os</strong>s<strong>os</strong> <strong>de</strong> galinha («ou galo») com uma facilida<strong>de</strong><br />

extraordi nária; come porcarias. Pois chegam a comer o recheio<br />

das tripas e do estômago <strong>de</strong> qualquer ruminante, alegando que já está<br />

cozinhado. A carne <strong>de</strong> teriorada comem-na tanto ou com mais satisfação<br />

do que a sã e dizem que coze mais <strong>de</strong>pressa, e, <strong>no</strong> entanto, apenas limpam<br />

<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntes, a maioria, com um bambu ou a raiz subterrânea dum<br />

arbusto chamado mŭlàŭa [mu khava] 22 , batido na ponta à laia <strong>de</strong> pincel.<br />

Fazem uso <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong>stes «pincéis» ou «escovas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes».<br />

Po<strong>de</strong> ser o próprio bambu milaze -milaze 23 . Para a mulher é <strong>de</strong>stinada<br />

a raiz dum outro arbusto chamado m’làla [mulala] que é <strong>de</strong> sabor picante<br />

e <strong>de</strong>ixa <strong>os</strong> lábi<strong>os</strong> um tanto corad<strong>os</strong>, ao pincel, em geral, chamam<br />

m’sŭaque [musuwakhi ou mushuwakhi]. No Muite vi fazer uso duma raiz<br />

<strong>de</strong> casca amarela, duma planta chama da raqŭe [eràkhi] 24 . Desta forma o<br />

20 O milho fi<strong>no</strong> <strong>de</strong> que se refere é a mapira, «mèle», isto é, o sorgo (Sorghum vulgare Pers.) que<br />

quando «ver<strong>de</strong>» o grão po<strong>de</strong> ser comido ou triturado com vista à obtenção <strong>de</strong> um líquido leit<strong>os</strong>o que se<br />

po<strong>de</strong> beber ou então fazer papas, ditas “mahasa”.<br />

21 Ou “mahaza”. Caldo com pouco arroz ou pouca farinha. Caldo ralo. Papas ralas.<br />

22 Landolphia Kirki, Dyer.<br />

23 Palavra não i<strong>de</strong>ntificada. Talvez a muthala.<br />

24 Eràkhi ou karakhi é uma planta que cresce <strong>no</strong>rmalmente junto d<strong>os</strong> morr<strong>os</strong> <strong>de</strong> muchém.<br />

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