Pesquisas FAU 2007/2008 - fauusp
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A formação ampla que está em nossa origem, verdadeiro paradigma,<br />
constitui uma fonte de inquietação. Ela é característica virtuosa que afirma a<br />
formação e recusa o treinamento mas, ao mesmo tempo, geradora de<br />
dispersão e insatisfações. O quadro formado pelas pesquisas da <strong>FAU</strong>, como<br />
veremos adiante, pode evidenciar um universo excessivamente amplo e<br />
fragmentado para alguns ou diverso, plural e virtuoso para outros. Essa<br />
segunda explicação pode ser questionada já que a <strong>FAU</strong> (e poderíamos estender<br />
a todas as <strong>FAU</strong>s que seguiram esse modelo, com exceção portanto do curso da<br />
UNB) não se abre para a universidade. Sua condição de isolamento em relação<br />
à formação universitária decorreu, de um lado, das características das<br />
universidades brasileiras cuja criação foi precedida pelas escolas profissionais,<br />
especialmente direito, engenharia e medicina. Essas escolas foram criadas antes<br />
das universidades e mantiveram-se relativamente autônomas resistindo à<br />
interação 12 . Por outro lado essa reunião de disciplinas das áreas técnicas,<br />
artísticas e humanas tenderam a simular uma pequena “universidade” no<br />
interior mesmo das escolas de arquitetura e urbanismo e, devemos acrescentar<br />
a esse título, paisagismo, desenho industrial e programação visual. Muito já se<br />
discutiu sobre o arquiteto demiurgo nas incontáveis horas dedicadas aos Fóruns<br />
da <strong>FAU</strong>, mas não foi o suficiente.<br />
A outra hipótese que cabe levantar aqui diz respeito à ausência do projeto<br />
coletivo ou projetos coletivos: propostas que, agregando um certo número de<br />
agentes disputam a hegemonia num determinado contexto social. Num mundo<br />
crescentemente marcado pelo fim das utopias humanistas, pela competitividade,<br />
pelo individualismo, é difícil deter o processo de fragmentação que se estende a<br />
todos os poros da vida com exceção da organização do grande capital que se<br />
concentra de forma crescente e global.<br />
A repressão direta à liberdade de expressão e à reprodução das idéias,<br />
consideradas subversivas pelo regime militar de 1964 a 1985 foi sucedida pela<br />
hegemonia conservadora construída mais pelo consentimento do que pela<br />
pressão, que é própria da nova fase do capitalismo conhecida por globalização,<br />
característica do final do século XX e início deste século. A ninguém mais escapam<br />
as grandes mudanças pelas quais o mundo está passando e isso inclui a<br />
subjetividade humana, como já sistematizaram vários autores como Bauman,<br />
Arrighi, Harvey, entre outros.<br />
Dentre as muitas mudanças que podem ser sentidas no meio acadêmico, nas<br />
últimas duas ou três décadas, interessa destacar apenas duas. A primeira é de<br />
que normas, expedientes burocráticos, mais do que um projeto de universidade<br />
com diretrizes claras, fornece a referencia para a unidade do conjunto. A<br />
internacionalização é inexorável e tem muito a ver com padrões e indicadores e<br />
métodos adotados para essa normatização 13 . Além disso, é através dela, da<br />
internacionalização, que são classificadas as universidades nos rankings mundiais.<br />
Raramente se debate uma política de internacionalização que definiria prioridades<br />
de temas e parceiros, o que poderia amenizar a influência de séculos de<br />
subordinação intelectual e cultural e torná-la virtuosa, além de necessária, para<br />
algum movimento emancipatório.<br />
A segunda mudança a ser destacada diz respeito à perda de importância das<br />
áreas de humanas. Julio Katinsky lembra que a USP foi criada por um grupo de<br />
humanistas e, no entanto, eles não têm participado de forma expressiva das<br />
10<br />
(12) PEREIRA, M. “Arquitetura e<br />
os caminhos para sua explicação”.<br />
In: Revista Projeto. São Paulo:<br />
Editores Associados, 1984.<br />
(13) O irresistível e tradicional<br />
apelo das universidades dos<br />
países centrais ainda continua<br />
forte para os acadêmicos da<br />
periferia, mas há um evidente<br />
movimento novo de expansão<br />
das universidades dos chamados<br />
países do norte em direção ao<br />
sul, que inclui a oferta de<br />
numerosos cursos, seminários e<br />
convênios.