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Crianças com Deficiência - UNICEF Mozambique - Home page

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PERSPECTIVA<br />

Segregação e abusos<br />

em instituições<br />

Eric Rosenthal e Laurie Ahern<br />

Eric Rosenthal, JD, é fundador e<br />

Diretor Executivo da Disability Rights<br />

International (DRI). Laurie Ahern é<br />

presidente da entidade. Por meio de<br />

investigações em abrigos e outras<br />

instituições em mais de doze países, a<br />

DRI chamou a atenção internacional para<br />

os direitos de pessoas <strong>com</strong> deficiência.<br />

Em todas as partes do mundo,<br />

milhões de crianças <strong>com</strong> deficiência<br />

são separadas da família<br />

e colocadas em abrigos, em<br />

escolas em regime de internato,<br />

em instituições psiquiátricas e<br />

em famílias sociais. Crianças<br />

que sobrevivem às instituições<br />

defrontam-se <strong>com</strong> a perspectiva<br />

de uma vida segregada da sociedade<br />

em instituições para adultos.<br />

Segundo a Convenção sobre<br />

os Direitos das Pessoas <strong>com</strong><br />

Deficiência (CDPD), a segregação<br />

de crianças <strong>com</strong> base em sua<br />

deficiência constitui uma violação<br />

de seus direitos. O Artigo 19<br />

da Convenção exige que os<br />

governos criem as leis, as políticas<br />

sociais e os serviços de apoio<br />

<strong>com</strong>unitário necessários para<br />

evitar o isolamento ou a segregação<br />

em relação à <strong>com</strong>unidade.<br />

Ao longo de 20 anos, a Disability<br />

Rights International – DRI – documentou<br />

as condições de crianças<br />

<strong>com</strong> deficiência que vivem em<br />

instituições em 26 países ao<br />

redor do mundo. Nossos achados<br />

são surpreendentemente<br />

consistentes. Entrevistamos<br />

mães e pais amargurados que<br />

desejam manter os filhos em<br />

casa, mas não recebem apoio<br />

adequado dos governos e não<br />

têm condições financeiras para<br />

deixar o trabalho e ficar em casa<br />

para cuidar de uma criança. Frequentemente<br />

os médicos sugerem<br />

a pais e mães que coloquem<br />

sua filha ou filho em um abrigo<br />

antes que se apeguem demasiamente<br />

à criança.<br />

Criar crianças em contextos<br />

coletivos é intrinsecamente perigoso.<br />

Mesmo em instituições<br />

limpas, bem administradas e que<br />

dispõem de pessoal adequado,<br />

as crianças enfrentam mais riscos<br />

de vida e de saúde do que<br />

aquelas que crescem no seio da<br />

família. Crianças que crescem em<br />

instituições têm maior probabilidade<br />

de apresentar dificuldades<br />

de desenvolvimento, e as mais<br />

jovens também correm o risco<br />

de sofrer danos psicológicos<br />

potencialmente irreversíveis.<br />

Mesmo em instituições que oferecem<br />

alimentação adequada,<br />

observamos frequentemente<br />

crianças emaciadas, porque simplesmente<br />

param de <strong>com</strong>er – uma<br />

condição denominada “fracasso<br />

em tentar”. Bebês e crianças<br />

<strong>com</strong> deficiência podem morrer<br />

de fome ou apresentar carência<br />

de nutrientes adequados porque<br />

a equipe não usa ou não tem<br />

<strong>com</strong>o usar um tempo extra para<br />

alimentá-las. Algumas vezes um<br />

membro da equipe coloca uma<br />

mamadeira sobre o peito de uma<br />

criança que está presa ao leito, o<br />

que, teoricamente, permitiria que<br />

a criança a pegasse e sugasse –<br />

mas, na prática, a criança pode<br />

ser incapaz de segurá-la.<br />

Muitas crianças são abandonadas<br />

para fenecer aos poucos.<br />

Em 2007, um investigador da<br />

DRI constatou, horrorizado, que<br />

uma criança que parecia ter<br />

7 ou 8 anos de idade tinha de<br />

fato, segundo uma enfermeira,<br />

21 anos, e não saía do berço<br />

havia 11 anos.<br />

Sem possilidade de se movimentar,<br />

as deficiências físicas se agravam,<br />

e as crianças podem desenvolver<br />

<strong>com</strong>plicações médicas que<br />

ameaçam sua sobrevivência. Em<br />

alguns casos, as pernas e os braços<br />

da criança ficam atrofiados e<br />

precisam ser amputados.<br />

Sem apoio ou atenção emocional,<br />

muitas crianças tornam-se<br />

autoabusivas, balançando-se<br />

para a frente e para trás, batendo<br />

a cabeça nas paredes, mordendo-se<br />

ou cutucando os próprios<br />

olhos. Muitas instituições carecem<br />

de pessoal capacitado que<br />

46<br />

situação mundial da infância 2013: Crianças <strong>com</strong> Deficiência

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