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Capítulo 6<br />
Medindo a<br />
deficiência infantil<br />
Uma sociedade não pode ser equitativa sem que todas as<br />
crianças sejam incluídas, e crianças <strong>com</strong> deficiência não<br />
podem ser incluídas a não ser que coleta e análise de dados<br />
consistentes as tornem visíveis.<br />
Medir a deficiência infantil representa enfrentar um<br />
conjunto de desafios específicos. Uma vez que o ritmo<br />
do desenvolvimento e da aprendizagem de tarefas<br />
básicas é diferente para cada criança, pode ser<br />
difícil avaliar funções e fazer distinção entre limitações<br />
significativas das variações existentes no desenvolvimento<br />
considerado “normal”. 114 A natureza<br />
variável e a gravidade das deficiências, assim <strong>com</strong>o<br />
a necessidade de aplicar definições e medidas específicas<br />
por idade, <strong>com</strong>plicam ainda mais os esforços<br />
de coleta de dados. Além disso, a precariedade dos<br />
dados sobre deficiência infantil decorre, em alguns<br />
casos, de uma <strong>com</strong>preensão limitada do que é uma<br />
deficiência na criança e, em outros casos, de estigma<br />
ou de investimentos insuficientes no aprimoramento<br />
das medições. A falta de evidências que resulta<br />
dessas dificuldades prejudica o desenvolvimento de<br />
boas políticas e o provimento de serviços vitais. No<br />
entanto, <strong>com</strong>o será discutido a seguir, vêm sendo<br />
empreendidos esforços para melhorar a coleta de<br />
dados – e o próprio ato de reunir informações vem<br />
desencadeando mudanças positivas.<br />
Definições em evolução<br />
Embora haja um consenso geral de que as definições<br />
de deficiência devem incorporar determinantes<br />
médicos e sociais, a medição de deficiência ainda<br />
é predominantemente médica, <strong>com</strong> foco em limitações<br />
físicas ou mentais específicas.<br />
As estimativas sobre a prevalência de deficiência<br />
variam dependendo da definição utilizada. Definições<br />
médicas limitadas provavelmente produzem<br />
estimativas mais baixas do que definições mais<br />
abrangentes, que levam em consideração as barreiras<br />
sociais ao funcionamento e à participação. 115<br />
A Classificação Internacional de Funcionalidade,<br />
Incapacidade e Saúde (CIF), desenvolvida pela<br />
Organização Mundial da Saúde, oferece uma<br />
estrutura para observar a saúde e a deficiência em<br />
um contexto mais amplo de barreiras sociais. 116<br />
Essa classificação considera a deficiência de duas<br />
formas principais: <strong>com</strong>o uma questão física de<br />
estrutura e funcionamento e em termos da atividade<br />
e da participação do indivíduo. Segundo a<br />
definição da CIF, deficiência é um aspecto <strong>com</strong>um<br />
da existência humana. A definição da CIF inclui de<br />
fato a deficiência, deslocando o foco da causa para<br />
o efeito, e reconhecendo que todas as pessoas<br />
podem ter algum grau de deficiência. Reconhece<br />
também que funcionamento e deficiência ocorrem<br />
em um contexto, e que, portanto, faz sentido avaliar<br />
não só aspectos físicos, mas também fatores<br />
sociais e ambientais.<br />
Embora a CIF tenha sido criada principalmente<br />
para deficiências em adultos, uma classificação<br />
derivada – Classificação Internacional de Funcionalidade,<br />
Incapacidade e Saúde para Crianças e<br />
Jovens (CIF-CJ) – avança no sentido de incorporar a<br />
dimensão social, captando não só a limitação, mas<br />
também seus efeitos sobre a funcionalidade e a<br />
participação da criança em seu ambiente. A classificação<br />
considera quatro áreas principais: estruturas<br />
físicas (por exemplo, órgãos, membros e estruturas<br />
dos sistemas nervoso, visual, auditivo e musculoesquelético);<br />
funções corporais (funções fisiológicas<br />
dos sistemas orgânicos, <strong>com</strong>o audição e memória);<br />
MEDINDO A DEFICIÊNCIA INFANTIL 63