You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
o resultado final. Aconteceu<br />
muita coisa entretanto e,<br />
modéstia à parte, constatamos<br />
que esse álbum colocou-nos<br />
no mapa deste género musical<br />
no underground internacional e<br />
deixou uma marca no Hard Rock<br />
nacional. A excassez de bandas<br />
portuguesas assumidamente<br />
deste género também ajuda, é<br />
um facto.<br />
Acham que tudo isso elevou<br />
ainda mais a fasquia para os<br />
objetivos da banda?<br />
Sem dúvida, mas penso que<br />
respondemos bem a isso. O<br />
novo disco “Neon Gods” está<br />
aí e, mais do que o que nós<br />
achamos, importa as pessoas<br />
ouvirem e darem a sua sentença<br />
quanto a essa fasquia. Apesar da<br />
edição em digipack, facilitámos<br />
a audição disponibilizando as<br />
músicas todas nas plataformas<br />
digitais, à medida de cada um...<br />
Olhando para o passado, anos<br />
80....acham que seria mais<br />
fácil vingar nessa altura?<br />
Porquê?<br />
Em Portugal teria sido<br />
bastante difícil, mas teríamos<br />
mais hipóteses, dada a maior<br />
popularidade deste género<br />
na época e a maior abertura<br />
de grandes editoras para<br />
lançamentos de rock. Nos<br />
E.U.A., as hipóteses seriam<br />
outras, mas também é verdade<br />
que havia uma competitividade<br />
extrema. Para cada banda<br />
que rompia, 999 falhavam na<br />
sombra. Mas tudo estava em<br />
aberto, tudo podia acontecer. E<br />
ao menos estaríamos a viver o<br />
sonho, a acreditar que iria durar<br />
para sempre e sem fazer ideia<br />
de que iria aparecer uma nuvem<br />
negra chamada grunge! Sem<br />
dúvida que trocava.<br />
Diferenças para o que se vê<br />
atualmente?<br />
Incomparável. Só podemos falar<br />
do conhecimento “histórico”<br />
que temos, porque nos anos 80<br />
nenhum de nós tocava ainda em<br />
bandas. Falando de Portugal,<br />
agora existem melhores<br />
condições para haver uma<br />
gravação decente e para uma<br />
banda ter uma “carreira” mais<br />
sólida. A nível global, tenho<br />
obivamente de mencionar a<br />
música na era digital como um<br />
pau de dois bicos: por um lado,<br />
permite um acesso mais livre para<br />
uma divulgação sem barreiras<br />
do ponto de vista das bandas e a<br />
um poço sem fundo para quem<br />
quer conhecer mais música,<br />
seja ela recente ou antiga. Por<br />
outro, banaliza e desvaloriza o<br />
produto musical. Ninguém quer<br />
saber dos músicos que gravaram<br />
e lançaram algo com esforço<br />
e baseado nas suas poupanças<br />
pessoais, é como se até a autoria<br />
da música tivese passado a ser<br />
uma ideia descabida ou virtual.<br />
Além de que a facilidade de<br />
acesso conduziu a uma <strong>of</strong>erta<br />
extremamente saturada.<br />
Quais as maiores dificuldades<br />
com que uma banda se depara<br />
de hoje em dia, pois são poucos<br />
os artistas nacionais que<br />
conseguem, vá lá sobreviver,<br />
só da música?<br />
Talvez comece na falta de<br />
abertura dos principais meios<br />
de divulgação para sair do<br />
círculo restrito dos lobbies/<br />
grupos económicos/editoras/<br />
promotores que insistem em<br />
promover os mesmos de sempre,<br />
em preferir manter a postura de<br />
carneirinho que ouve o que lhe<br />
impingem e promove o que lhe<br />
mandam promover. E porque o<br />
fazem? Para tentarem provar-se<br />
relevantes, desesperadamente<br />
jovens ou simpelsmente para<br />
garantirem a continuidade<br />
desses círuclos de interesses.<br />
Sem divulgação nos maiores<br />
canais, as bandas que fogem<br />
ao “mais do mesmo” ou que<br />
não estão inseridos nessas<br />
correntes de favores estão<br />
de certa forma confinadas ao<br />
underground. Falando do lado<br />
financeiro, é uma conversa já<br />
um pouco gasta mas penso que<br />
existe uma relação directa entre<br />
a ausência de incentivos e o<br />
desconhecimento generalizado<br />
no exterior sobre música<br />
portuguesa, exceptuando o<br />
fado. Em muitas das críticas<br />
que lemos ao nosso trabalho,<br />
temos de levar com a cassete do<br />
“Portugal é conhecido pelo seu<br />
sol e praias mas não por uma<br />
tradição de bandas de rock ou<br />
metal”...<br />
Lembro neste seguimento dos<br />
Moonspell, com toda a certeza<br />
o nome mais consagrado<br />
mundialmente da cena metal<br />
nacional. Sons diferentes, mas<br />
ambições iguais, é assim com<br />
os Affaire?<br />
Os Moonspell tiveram a sorte<br />
de surgir no timing certo – o<br />
boom do gothic metal nos 90s<br />
- mas também tiveram mérito<br />
no trabalho consistente que<br />
os mantem no topo da cena<br />
nacional há mais de 20 anos.<br />
Mas há bandas portuguesas com<br />
as quais me identifico mais e que<br />
mereciam mais algum tempo<br />
de antena. A cena nacional<br />
27