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sai de lá novamente o bando de demónios alados que encobrem o céu de negro. Com uma só<br />
entidade, descem dos céus tomando uma forma de uma mão que com unhas bem pontiagudas<br />
pegam na figura encapuzada e a atiram para os pés dos irmãos que ficam com o seu sangue<br />
gelado quando vêem que é o rosto da sua mãe que é revelado.<br />
- Fujam antes que sejam... - o seu rosto contorce-se como se pele estivesse a ser esticada como<br />
plasticina até que surge o rosto do demónio - ...todos consumidos, sacos de carne!<br />
- Mãe! - André grita e vai na direcção da figura que está caído no chão.<br />
- André! Vamos embora!<br />
- É a mãe!<br />
- Nada é o que parece e isto não é mais que uma distracção! Temos que ir!<br />
- Para onde é que vamos, estamos no meio do deserto!<br />
- Puto, estás a ficar burro, ou quê?! Pensa!<br />
Mais uma vez, as emoções de André levam a melhor em relação ao seu instinto e às suas<br />
capacidades de manipular os sonhos. Era esse o intento do demónio. Instigado pelo irmão,<br />
André volta à frieza. O medo de perder a mãe continuava bastante presente mas ele sabe que<br />
não pode ceder o controlo do seu poder. Não neste momento.<br />
- Corram rapazinhos, corram. Tornem este momento ainda mais saboroso. Tal como a vossa<br />
mãe o torna ainda mais prazeiroso a tentar resistir ao inevitável. Não há como escapar, tal<br />
como vocês não conseguem escapar das vossas fraquezas.<br />
- Tretas! - diz André desafiador - Para quem não gosta de sacos de carne, andas com muita<br />
vontade de te meteres dentro de um.<br />
- Puto, o que é que...? - Diogo não acaba a questão quando André lhe pisca o olho. Aquele<br />
sinal de confiança é totalmente novo para ele, afinal, o seu irmão sempre transmitiu dúvida e<br />
sempre quis estar escondido do centro das atenções, mas havia algo que lhe diz que este era<br />
um lado do seu irmão totalmente novo para si.<br />
- "As minhas veias são negras do sangue de Tiamat. Os meus olhos espalham-se como as rodas<br />
do tempo e do espaço. A minha vontade é forte como um golpe da espada de Marduk. Eu não<br />
sou humano porque eu escolho saber". Eu escolho o conhecimento acima da fraqueza! Viver<br />
como um deus. Todos nós somos deuses que vos permitimos viver com as nossas migalhas.<br />
Nós viemos aqui para viver para sempre. Nós cheiramos a vossa carne e o vosso medo!"<br />
- E mesmo assim, ainda querem passar para o nosso corpo... cheira-me a tretas.<br />
- Rapaz insolente! Vais pagar caro pela tua insolência! Vou comer a tua alma!<br />
Das areias atrás do demónio algo parece elevar-se. Uma montanha de areia que vai escorrendo<br />
até revelar olhos e uma boca, que começa a sugar ar como se fosse o alimento de um esfomeado.<br />
- Estás com fome? Ele também! - André volta-se para o irmão - Vamos embora?<br />
- O que é aquilo? - pergunta Diogo<br />
- Um Titã. Ou melhor, O Titã. Cronos. O gajo que gosta de comer deuses ao pequeno-almoço.<br />
Um lanche com demónios também deve ser bom.<br />
Diogo sorriu. Sempre achou que o seu irmão era um fechado no seu mundo, agarrado aos<br />
livros. Um marrão. Curiosamente tudo aquilo que o fez invejar na altura é aquilo que está<br />
agora a fazê-lo aproximar dele.<br />
Uma porta nasce do chão e abre-se. André pergunta:<br />
- Vamos para o próximo nível?<br />
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