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é que ele pegou onde o Diogo ficou, ou seja, ele não está a combater o seu subconsciente,<br />
está a combater o subconsciente do irmão. São os nossos próprios medos que nos deixam<br />
paralisados, os dos outros são mais fáceis de superar.<br />
-Tenho tanto medo de o perder a ele também...<br />
-Eu sei. Não te vou dar falsas esperanças. Continuamos a não saber como chegar ao sono,<br />
continuamos a não saber o que acontece lá. No entanto, o que sabemos é que o teu filho não caiu<br />
no sono. Os sinais vitais dele indicam apenas que está a dormir. O que também sabemos é que tu<br />
entraste no sonho, ou seja, continuamos a ter uma perspectiva daquilo que aconteceu lá dentro.<br />
-Mas eu não fiz nada!<br />
-Eu sei, foi ele que te chamou. E se o fez uma vez, vai fazê-lo novamente. Aliás, o teu<br />
subconsciente poderá estar lá neste momento, sem te aperceberes. Mas temos forma de saber<br />
tudo, não te preocupes. Os teus sonhos serão tão vívidos como um filme. Neste momento o<br />
André é a melhor hipótese que tens de recuperar o Diogo.<br />
As chamas extinguem-se e tudo desaparece, como que sugado por um furacão. Um urro<br />
infernal luta contra o inevitável mas não há como escapar à inevitabilidade. Palavras de ódio,<br />
juras de vingança e maldições lançadas que não surtem o efeito desejado. O demónio sabe<br />
disso e isso só faz com que o seu ódio aumente ainda mais. Apenas a mulher fica.<br />
-O que aconteceu... a tudo?<br />
-Desapareceram.<br />
-Onde estamos?<br />
-Não sei. Algum lugar sossegado...<br />
A luz brilha fazendo com que o branco pulse e cores comecem a jorrar dele. Cores que pintam<br />
paisagens de civilizações há muito esquecidas. As correntes do tempo são cortadas e manipuladas<br />
ao sabor dos seus desejos. Lemuria, Pnath e Sarnath. Os segredos do Universo estão ao seu alcance.<br />
Se ele mantiver os olhos abertos para eles. Esse é o seu desafio. A sua mãe, que continua atrás de si,<br />
sabe disso. Também sabe que a sua posição é fácil. Que os seus próprios demónios, os seus próprios<br />
receios conscientes podem afastá-la daquele lugar privilegiado. Enquanto isso, André mergulha<br />
num mar de letargia perigoso. Onde as distracções surgem subtilmente. Instalam-se iludindo o<br />
seu verdadeiro propósito. Assim como a sua própria mãe poderia ser levada a puxar o capuz do seu<br />
manto para cima e a abrir o portal para a serpente assumir o seu lugar. Não é algo voluntário, ela<br />
não tem escolha, mas ainda assim pode tentar usar isso a seu favor.<br />
- "Prova o fruto do conhecimento, bebe o sumo da sabedoria e verás o que os teus olhos não<br />
conseguem ver. E aí chegarás à Utopia!"<br />
André está mergulhado numa doce dormência, num sono dentro do sono. Numa morte letárgica<br />
que o vai envolvendo. À sua revelia vai crescendo um jardim à beira-mar, com pilares a cercá-lo.<br />
Enquanto passeia dormente pelo jardim, encontra uma pequena estátua de uma Fénix dourada. O<br />
céu cobriu-se de nuvens púrpura que choraram lágrimas de cristal, enlameando a pequena estátua.<br />
-" A explicação correcta de símbolos depende de unicamente de ti. Não tenho muito tempo, o falso sol<br />
vai mandar-me embora". - A figura encapuzada pega no ídolo e limpa-o, fazendo com que o mesmo<br />
brilhe um dourado intenso. Do lugar de onde saiu nasce uma flor que germina rapidamente -Tu és<br />
o senhor dos sonhos. Não permitas que... - a voz muda para um tom mais sibilante - ... durmasssss.<br />
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