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contextos, como no norte do país, em especial na região amazônica que guarda uma longa
história de projeto vindos de fora para dentro das comunidades e que se apresentam muito pouco
dialógicos - em suas elaborações - com as próprias comunidades envolvidas. No caso da
experiência do povo Xakriabá, me interessa apresentar como nosso povo encontra nos projetos
sociais uma alternativa estratégica de potencializar algumas iniciativas já existentes no território
e tomamos essa como uma escolha de lidar com os projetos e editais com o diferencial de
indigenizá-los na busca pela desburocratização e pela construção dialógica, de forma que,
compreendendo coletivamente o que podemos fazer a partir dos projetos, nossas próprias
expressões sejam contempladas:
Nas últimas décadas, a realidade dos povos indígenas brasileiros tem sido marcada
pela presença, cada vez mais intensa, de associações indígenas nas aldeias, criadas
principalmente a partir dos anos 1980. Esse dado relaciona-se a um processo mais
amplo de conquista de direitos sociais e políticos por parte desses povos. No capítulo
VIII da Constituição Brasileira de 1988, artigos 231 e 232, especificamente dedicado
às questões indígenas, os índios são reconhecidos como sujeitos históricos e não como
pessoas sem capacidades e, portanto, tutelados por um Estado integracionista e
autoritário (ESCOBAR, GOMES, GALVÃO, 2017, p. 233).
Entendemos que não basta o combate à visão tutelar e sim a garantia de formas de
expressão de nossa autonomia. Assim, as experiências vivenciadas no território Xakriabá em
torno dos projetos sociais exprimem a dinamicidade de nossa resistência aos processos de
tutelagem, quando assumimos uma postura que indigeniza a escrita como forma de não abrir
mão da autonomia de escrever as nossas próprias propostas e acessar editais que assegurem a
execução de projetos sociais.
No final da década de 1980/90, quando chegaram as primeiras propostas de projeto
no território Xakriabá, acompanhadas principalmente pela FUNAI, havia ainda muito resquício
do período de tutela, da lógica paternalista (e impositiva) do Serviço de Proteção ao Índio/SPI.
Estes projetos eram apresentados, mas não eram geridos pelo associativismo comunitário, e
muito menos construídos coletivamente, pois não existia um coletivo que dominasse a técnica
de elaborar projetos de acordo os trâmites burocráticos criteriosos que por muito tempo foram
um empecilho para acessarmos tais editais. Embora não participássemos do processo de
escrever é importante destacar que na organização social Xakriabá, composta pelas lideranças,
nunca aceitamos de forma passiva o que vinha de fora, assim, as lideranças já contribuíam e se
posicionavam, participando de maneira oral.
Ainda assim, na maioria das vezes, esses projetos resultavam em problemas.
Primeiro porque entre o processo da escrita de apresentar a proposta até ser aprovado levava