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Carta de Ipegue: documento final da 13º Assembleia Terena
“ [...] antigamente, quando puxarará falava, tínhamos que ficar quietinhos, pois quem
retruca o trovão? Mas hoje não! Puxarará falou, nós respondemos a altura, seja no
Congresso Nacional, no Judiciário e na instância do Executivo”.
O Conselho do Povo Terena, organização tradicional base da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (Apib), reunido na aldeia Ipegue, por ocasião da 13º Hanaiti
Hó`únevo Têrenoe, entre os dias 08 a 11 de maio de 2019, juntamente com representantes dos
povos Guarani Kaiowá, Kadiwéu, Kinikinau, Guató, Guajajara, Xukuru, Kaigang e Xakriabá,
vem expressar o compromisso de luta pelo bem viver da humanidade e oferecer a sociedade
envolvente a oportunidade de construirmos juntos, um mundo baseado no respeito aos modos
de vida de cada um e à Mãe Terra. Nos últimos anos, nós lideranças indígenas temos feito o
enfrentamento necessário para defender as nossas vidas e o direito de viver em nossos territórios
tradicionais, de acordo com nossas cosmovisões e modo próprio de ver e entender o mundo.
Chegamos a nossa 13º Assembleia Terena, até aqui foi um caminho difícil, trilhado
em torno da luta pela terra. Muitas lideranças que estavam na largada inicial não estão mais,
muitos foram perseguidos pelo processo de criminalização instrumentalizado pelas vias
estatais, outros, tombaram na luta, derramando seu sangue na terra sagrada e outros tantos,
foram cooptados pelo governo. Passamos pelo governo dito de esquerda, que se entregou ao
capital; resistimos ao governo golpista, que rifou nossos direitos ao agronegócio; e agora
estamos prontos, para fazer a resistência qualificada, ante ao governo de extrema direita de
Bolsonaro, anti-indígena, racista e autoritário.
Desde o primeiro dia deste ano, nós povos indígenas temos sofrido intensos
retrocessos no que tange aos nossos direitos, mas também, desde o primeiro momento estamos
resistindo, no campo ou na cidade, portanto, a retomada dos nossos direitos usurpados é medida
que se impõe. Os povos indígenas têm muito a ensinar à sociedade envolvente, pois diariamente
estamos dando exemplo de participação política e exercício ativo da cidadania cultural.
A Constituição Federal de 1988 consagrou a natureza pluriétnica do Estado
brasileiro. No entanto, vivemos o cenário mais grave de ataques aos nossos direitos desde a
redemocratização do país. O governo Bolsonaro decidiu pela falência da política indigenista,