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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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Acerca da resistência indígena, expressa nas estratégias mencionadas, tem-se que esta

assumiu formas diversas e, atualmente, o que tende a ser mais expressivo entre os

Terena é o crescimento, diuturnamente, da política de resistência ao regime tutelar –

ou a seus efeitos de poder mais danosos. Os Terena disputam o controle de recursos

materiais e posições de poder, buscando afirmar a capacidade política indígena de

controle de sua própria vida. Disputam também narrativas históricas e fazem a crítica

dos estigmas sobre o índio (representações românticas, imagem de preguiçoso e etc.)

e do conjunto de mecanismos concretos e simbólicos institucionalizados pelo regime

tutelar.

Na esteira das políticas indígenas de resistência uma nova estratégia tem sido

elaborada: a tentativa de ocupar cargos públicos nas esferas do poder político. Isso pôde ser

percebido no lançamento de candidaturas de representantes de vários povos indígenas no último

pleito eleitoral, no qual disputaram as vagas existentes para os cargos eletivos de senador da

república, deputado estadual e federal. Dentre as etnias que apresentaram candidatos, estão os

Wapichana, os Guató, os Ofaié e os Terena. A tentativa de ocupar lugares estratégicos de poder,

por parte dos povos indígenas, sempre foi uma expectativa, conforme declarou Lindomar

Terena em entrevista concedida à jornalista Izabela Sanches em 9 de outubro de 2018: “O

movimento indígena sempre quis pleitear e ocupar esses espaços e pra nós é um espaço

importante, de decisões e para o movimento, é sempre bom ter nossos representantes”

(SANCHEZ, 2018, p. 1).

Ter um representante na estrutura política de Mato Grosso do Sul é algo vantajoso

para os povos indígenas, inclusive para os Terena, cujas disputas por território se arrastam há

anos nos labirintos da justiça nacional, apesar dos ganhos de causa em seu favor. Tal

representação poderia auxiliar sobremaneira na defesa de seus interesses mais urgentes, como

as questões relativas à posse de seus territórios tradicionais, por exemplo. Outras tantas

demandas poderiam também entrar na pauta das discussões, tais como saúde, educação e

quantas mais forem de interesse do grupo.

INDÍGENAS E INTELECTUAIS: O PROTAGONISMO TERENA NA ACADEMIA

Desde a publicação do clássico texto de Lévi-Strauss O Pensamento Selvagem já se

sabe que os povos indígenas são dotados de capacidade intelectual superior e incrível poder de

cognição. Nesse sentido, é necessário relatar que os indígenas sempre tiveram entre eles seus

intelectuais, representados pelos xamãs e feiticeiros, detentores de conhecimentos místicos,

conhecedores do poder de cura das ervas e da força mortal de suas combinações (CARNEIRO

DA CUNHA, 1998; ELIADE, 1983, SCHADEN, 1982). Como afirmou Soublin (2000, p. 110

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