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manter a rede de troca entre comadres e parentes, que porventura não possuem ou não
conseguiram guardar a variedade naquele ano. Revelam, portanto, um outro
conhecimento/técnica de guardar e fazer circular as sementes. As sementes de abóbora, melão
e melancia são depositadas nas paredes embarriadas 29 , e nessa prática as mulheres reafirmam
mais um ato de resistência. São elas as nossas guardiãs de sementes, portanto, garantem a
manutenção da alimentação no território Xakriabá. Essas histórias me fazem pensar o quanto
as mulheres construíram e constroem ainda hoje o nosso patrimônio material e imaterial através
do jeito delas de contribuir. Considero que a circulação da alimentação é o elemento mais
representativo para demonstrar os valores presente nesta relação de troca mútua. Esta troca não
consiste apenas numa troca de sementes, no gesto de compartilhar comida e sim em outros
valores que carregam elementos profundos na relação comunitária.
Figura 11: Foto do plantio de abóbora e outras variedades no próprio terreiro da casa.
Foto: Edgar Correa Kanaykõ. (2008).
Neste sentido, como exemplificado por estas duas histórias, apresentamos outra
possibilidade de agricultura, formas de produzir semente e alimento sem nos envenenar,
partindo do princípio de que devemos nos alimentar com qualidade e sem ferir, sem deixar
cicatrizes na terra.
29
Paredes embarriadas são casas de construção tradicional, com técnica do conhecimento local, que o povo
Xakriabá também chama de paredes levantadas com enchimento, utilizando o barro no lugar do cimento, depois
que é feito o enchimento vem o processo do embarriar, que é como se fosse o reboco que as pessoas utilizam nas
construções convencional.