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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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Por isso, as inestimáveis palavras do xamã servem de inspiração para pensarmos o exercício

tradutório de Claudia Andujar. Sobretudo para aqueles/as que, assim como eu, foram

apresentados/as à terra-floresta Yanomami (urihi a) pelas lentes dessa grande artista.

Com Davi Kopenawa e Bruce Albert, aprendemos também que tudo aquilo que

sobra da existência física e social dos mortos deve ser destruído, num esforço ritual para garantir

a separação entre o mundo dos vivos e dos mortos. Dessa forma, as fotos de Andujar só foram

possíveis a partir do reconhecimento da importância política de seu trabalho para a

sobrevivência do povo.

Em 1989, pouco antes da demarcação (ocorrida em 1992), Claudia Andujar e a

Comissão Pela Criação do Parque Yanomami armaram uma grande exposição no MASP. Para

a instalação, ela refotografou com filme em cores centenas de imagens de seu próprio arquivo.

“A instalação resumia a luta dos Yanomami, ao conduzir o espectador por um mundo em

harmonia, paulatinamente destruído pelo progresso da civilização branca. Refotografadas, suas

imagens ganhavam ares espectrais, que reforçavam a sugestão de extermínio” (p. 247) – escreve

o curador Thyago Nogueira, que remontou o projeto na exposição do Moreira Salles e, de

maneira acertada, encerra o catálogo com as imagens. O eloquente título dessa série dispensa

maiores explicações, deixando evidente que, com a morte dos povos indígenas e a decorrente

queda do céu, sucumbiremos todos: Genocídio do Yanomami: morte do Brasil!

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