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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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INTRODUÇÃO

É notório entre os estudiosos da questão indígena no Brasil que as diversas etnias

estabelecem estratégias de interação entre eles e a sociedade nacional, interações nem sempre

marcadas pelo diálogo respeitoso entre as partes. Em verdade, o que ocorreu desde a chegada

dos colonizadores foi um processo que objetivava, e ainda objetiva, a dominação completa de

todos os povos autóctones aqui existentes. Contudo, os indígenas não sofreram o processo de

dominação sem lutar, oferecendo resistência aos propósitos civilizatórios e hegemônicos das

elites europeias. Resistências essas nem sempre declaradas abertamente, mas disfarçadas em

uma aparente submissão e cooperação irrestrita.

Nesse contexto, destacam-se os indígenas da etnia Terena, exímios manipuladores

dos códigos de conduta dos colonizadores – manipulação essa que aparentava concordância e

aceitação, mas que na verdade era, e é ainda, um expediente do qual se vale os Terena para

conseguirem defender seus interesses, realizar seus projetos e, o que é mais premente em um

combate entre forças desiguais: sobreviver, tanto física quanto culturalmente. A propósito do

domínio dos códigos presentes na sociedade envolvente e valorizados como símbolos de

civilização, Pereira (2009, p. 84) cita como exemplo a mobilização dos códigos de etiqueta por

parte do Terena, enfatizando que o domínio desses códigos é um processo complexo que

“envolve palavras, atos e formalidades reciprocamente adotadas para demonstrar respeito

mútuo e consideração, de acordo com o status atribuído a cada posição social”.

A etnia Terena envida esforços que têm por objetivo atingir e mobilizar a seu favor

o capital cultural do “homem branco”, acionando nesse processo estratégias simbólicas

oriundas de sua própria cultura para viabilizar o contato com a sociedade envolvente. Em outras

palavras, busca “demonstrar que faz parte da racionalidade indígena a leitura do mundo

ocidental e ainda mais, a ação dentro das suas estruturas complexas.” No entanto, sua interação

é pensada dentro da sua lógica de interesses e objetivos, dado que “que guardam as proporções

do agir dentro da conformidade dos interesses que não são do mundo dos ‘brancos’, mas que

fazem jus a interesses próprios de seu modo de interpretar o mundo, isto é, fazem parte do seu

ethos cultural e da sua etnicidade” (DUARTE, 2017, p. 22)

A sobrevivência física é algo patente, haja vista o aumento populacional dessa etnia

no território brasileiro, notadamente o estado do Mato Grosso do Sul; a presença cultural é outro

fator a demonstrar a força da cultura terena em Campo Grande e no resto do estado de MS. Aos

moradores da cidade, e aos turistas que aqui aportam, basta uma vista ao Mercadão Municipal

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