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REVISTA TERENA 2 EDIÇÃO

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outros grupos, adotando como referência as semelhanças socioculturais e/ou biológicas

aparentes, sejam elas factuais ou pressupostas.

No entanto, é preciso que se diga, os Terena não tiveram sua cultura diluída na

cultura nacional, continuam mantendo suas características culturais e suas crenças. Todavia,

essa conservação, por assim dizer, da cultura terena não se operou – e não se opera – de maneira

enquistada, engessada, visto que as sociedades humanas são, como já explicitado por Laraia

(2009), dinâmicas e, portanto, se transformam ao longo dos anos, como também ilustra Carneiro

da Cunha (1986, p. 99) no seguinte excerto: “A cultura original de um grupo étnico, na diáspora

ou em situações de intenso contato, não se perde ou se funde simplesmente, mas adquire uma

nova função essencial e que se acresce às outras”. É na dialeticidade ensejada pelas situações

de contato que o povo terena constrói e reconstrói suas estratégias de interação, buscando

imiscuir-se e assimilar a seu favor os pressupostos culturais da sociedade envolvente, mas sem

nunca esquecer quem é, o que fica claro na expressão “Eu posso ser o que você é sem deixar de

ser o que eu sou.” (OLIVEIRA, 2002, p. 170-171).

A autora em questão ainda adverte que, no que tange às estratégias de interação do

povo terena, o que seus representantes fazem escolher os sinais diacríticos que se oponham “a

outros do mesmo tipo”, para que se possa assegurar a “escolha dos tipos de traços culturais que

irão garantir a distinção do grupo enquanto tal”; isto é: quando em processo de interação com

os outros grupos com os quais mantêm-se inseridos, mobilizam os signos socioculturais que

melhor lhes possibilitem o reconhecimento e a distinção enquanto grupo (CARNEIRO DA

CUNHA, 1986, p. 100).

Foi no seio dessas estratégias de interação que os Terena mantiveram suas relações

com os Guaicuru no período colonial e com os colonizadores europeus; e é assim,

estrategicamente, que mantêm suas relações com os muitos setores da sociedade regional sulmato-grossense

e nacional. Nesse contexto, Pereira (2009, p. 101) acredita ser possível “[...]

propor que o Terena se torna mais Terena à medida que amplia as possibilidades de atuação

performática em distintos cenários sociais [...]” (PEREIRA, 2009, p. 101).

A atuação performática a que se refere Pereira (2009) se inscreve, dentre outras

possibilidades, no universo do interacionismo simbólico de Goffman (2006 [1975], p. 10),

notadamente aos “marcos de referência” elaborados culturalmente pelos indivíduos de uma

dada sociedade. Tais marcos servem para contextualizar e dirigir a conduta dos indivíduos na

dinâmica das relações sociais, atuando também como marcadores de diferença; mas como

circulam em diversos grupos sociais e são percebidos e sentidos nos processos de interação,

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