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Nessa conjuntura, e somado à preocupação de proteger militarmente as fronteiras
brasileiras, foi organizada a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Mato Grosso
(1900-1906), chefiada pelo militar Cândido Mariano da Silva Rondon. Por onde passava, a
comissão entrava em contato com as diversas etnias indígenas, e a partir disso delineou-se a
política indigenista que resultaria na criação do SPI. O grupo adentrou o território terena e
iniciaram-se mudanças que culminariam com a formação das Reservas.
A comissão arregimentava os indígenas para os diversos trabalhos que envolviam
a exploração de regiões desconhecidas para os funcionários não índios: a derrubada da mata, a
lapidação da madeira, o levantamento e a fixação dos postes e o transporte de materiais e
equipamentos. Circe Bittencourt e Maria Elisa Ladeira (2000, p. 81), destacam que os primeiros
indígenas que participaram dos trabalhos da comissão foram os Bororo e à margem do rio
Taquari, eles não quiseram mais continuar o trabalho, alegando que dali para frente, “estava o
território dos Guaicuru e dos Terena. E, a partir daquele momento, o trabalho dos Bororo foi
substituído pelo dos Terena, que participaram das atividades da Comissão até o final”.
Adilso de Campos Garcia (2008), na dissertação intitulada A participação dos
índios Guaná no processo de desenvolvimento econômico do sul de Mato Grosso (1845-1930),
analisa algumas fotografias, dentre elas a de um grupo de Kaiowá e Terena que trabalharam na
construção da linha de Ponta Porã. O pesquisador chama atenção para a presença de crianças
na imagem, indicando que possivelmente havia “ampla utilização de menores na atividade de
construção das linhas telegráficas” (GARCIA, 2008, p. 111).
Em alguns documentos analisados pelo mesmo autor, evidenciou-se que em certos
momentos a produção agrícola dos Terena foi prejudicada, dado o número de homens que era
recrutado para outras atividades, dentre elas o trabalho nas linhas telegráficas e o engajamento
militar, pois, o governo de Mato Grosso “convocava os índios para lutarem em suas fileiras.
Essas lutas coronelísticas caracterizaram-se pelo extremo grau de violência registrada no final
do século XIX e que se enveredou pelo seguinte, devido às Revoltas Tenentistas” (GARCIA,
2008, p. 112).
Outro empreendimento que contou com a mão de obra terena foi a construção da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – NOB. O traçado da NOB começou em Bauru, estado de
São Paulo e estendeu-se até Corumbá, fronteira com a Bolívia, no atual Mato Grosso do Sul.
Mantinha um ramal de Campo Grande (Estação Indubrasil) a Ponta Porã. Bittencourt e Ladeira
(2000, p. 84) salientam que os trabalhos da ferrovia foram feitos praticamente pelos indígenas
e ainda que “muitos morreram pelos vários acidentes que aconteceram no período da construção
da estrada de ferro”.