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Figura 15: Foto da semente já colhida e selecionada do milho e feijão, produzido coletivamente pelo projeto do banco de
semente tradicional Xakriabá.
Foto: Nicolau Xakriabá (2016)
Acreditamos no bem-viver que gera a autonomia alimentar. Vivemos hoje em meio
a um apocalipse do capitalismo, que devasta e explora os recursos naturais para servir às
grandes corporações, bem como ao agronegócio. Nós, populações tradicionais temos condições
de apresentar um outro projeto de sociedade, não exatamente pela falácia do desenvolvimento
e sim, por meio do re-envolvimento, que representa a retomada de outros valores. Nesta nossa
relação com o mundo, que é com o ambiente inteiro e não apenas uma parte, não dá para criar
uma relação impessoal ou sem espiritualidade, não dá para enxergar a natureza apenas como
um bem a ser explorado, ou mesmo como um lugar que produz alimento. A sociedade carece
de recuperar valores da relação com o espaço corpo-território. Precisa considerar o território
como um importante elemento que nos alimenta e constitui o nosso ser pessoa no mundo, não
sendo possível nos ver apartados do território, pois somos também parte indissociável dele,
nosso próprio corpo.
A continuidade da vida depende da igualdade para todos, do direito à comida, de
um paladar que também sustenta a tradição, e não é possível garantir uma autonomia alimentar,
se esta não incluir a luta pela garantia dos direitos aos nossos territórios indígenas. Depende de
cada um contribuir para aquisição dos nossos direitos. Acredito que a aliança com os demais
povos e comunidades tradicionais é a estratégia mais acertada para nos mantermos fortes para
a luta. Não há como ignorar que vivemos em uma sociedade desigual, mas essa iniquidade se
torna ainda maior quando o ato de se alimentar provoca a enfermidade do corpo.