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Entretanto, Eremites de Oliveira e Pereira (2003), pontuam que alguns Terena
continuaram dispersos nas fazendas, motivados pela relutância de viverem sob as ordens do
Chefe de Posto (funcionário do órgão indigenista). Além disso, alguns indígenas mesmo tendo
se estabelecido nas áreas de abrangência dos postos do SPI, não abandonaram outras atividades
nas áreas que ficaram de fora do perímetro das Reservas.
Portanto, mesmo após o recolhimento dos Terena às Reservas, os produtores rurais
continuavam a recorrer ao trabalho indígena, devido à escassez de trabalhadores não índios na
região. Conforme Moura (2001, p. 36), as “Reservas transformaram-se em depósitos
abundantes de mão de obra”. Interessava aos purutuya não só as terras terena, mas também o
seu trabalho.
Garcia (2008), destaca que esses indígenas eram muito requisitados para a lida com
gado. Além de serem considerados vaqueiros habilidosos, eles mesmos confeccionavam os
aparatos para montaria como selas, baixeiros e coxinilhos, o que representava uma economia
considerável para os patrões.
Dentre os apetrechos, o baixeiro era de suma importância, pois se colocava sob os
arreios das cavalgaduras para proteger o lombo do animal, com o objetivo de não pisálo
ou machucá-lo; primava-se pela saúde lombar do animal, conservando-o para o
trabalho. Quando deixava a aldeia para trabalhar uma temporada em alguma fazenda,
era costumeiro cada índio levar seu arreio ou sua traia de montaria, que lhe era
peculiar. Como se pode depreender através dessa representação, o índio participava
de todo o processo de fabricação de um arreio, desde colocar a armação de madeira,
costurar com tiras de couro curtido o suador, enchê-lo com capim batido, coser as abas
(assento), e sobre essas, suturar o travessão com as duas argolas, onde vão os loros
que seguram os estribos (GARCIA, 2008, p. 76).
Os trabalhos nas fazendas eram os mais diversos, e após o estabelecimento nas
Reservas, passou a ser para a maioria dos Terena, de caráter temporário. Ou seja, quando os
indígenas estavam em dia com as atividades em suas roças, ou devido à precária situação
financeira, procuravam e/ou eram procurados pelos proprietários rurais “para changuear ou
fazer empreitadas de derrubada de matas, tirar postes, fazer cercas, limpar lavouras, roçar os
brotos das invernadas, na marcação de bezerros, amansar vacas leiteiras, domar animais bravios
– equinos, muares – para a labuta no campo, enfim” (GARGIA, 2008, p. 79).
Também é importante mencionar o trabalho externo das mulheres Terena que
muitas vezes empregavam-se nas cidades como cozinheiras, lavadeiras, arrumadeiras e babás.
Nas fazendas, pontua Garcia (2008, p. 88), o emprego da mão de obra feminina foi considerável
e para as indígenas, “de um modo geral, esse contato mais consistente de trabalho nas mais
variadas modalidades – geralmente empregadas domésticas – servia também como um espaço
de aprendizagem do comportamento do homem branco”.